quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Web 2.0 na Educação

Interessante entrevista com o João Mattar, autor do livro "Second Life e Web 2.0 na Educação: o potencial revolucionário das novas tecnologias". Tenho lido muito sobre o tema por conta do doutorado e é sempre bom compartilhar bons materiais como esse.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Para refletir

Leituras de 2011

Em 2011 a única promessa de ano novo que consegui cumprir 100% foi a de aumentar minhas leituras tendo sempre um livro em andamento. Não sou adepto de um gênero específico e busco mesmo variar os estilos para não cair numa rotina entediante. Durante o ano procurei falar um pouco do que li, mas a correria do doutorado acabou me impedindo de falar sobre todos. Assim, neste post vou apenas listar as obras que por minhas mãos passaram neste ano bastante produtivo em termos de leitura, com links para minhas observações ou para sites interessantes sobre cada obra. São elas:

E que venha 2012!

Li e recomendo

Gente Pantaneira - Crônicas de sua História (Abílio Leite de Barros)

Meu tio Luiz Divino Sanavria - um legítimo pantaneiro.

Minha última leitura de 2011 na verdade acabou sendo uma das mais emocionantes por uma série de fatores. Primeiramente, o tema abordado nessa obra - o Pantanal e a história de sua ocupação - me absorve completamente pela identificação que eu tenho com essa região. É impressionante o orgulho que eu tenho em dizer que sou pantaneiro não apenas por ter nascido e crescido em Corumbá, mas por saber que sou descendente materno dos primeiros ocupantes das fazendas pantaneiras - os Barros - que foram para essa região após a desilusão do ouro em Cuiabá e na busca por um lugar onde fosse possível vencer. Ao mesmo tempo, me orgulha ainda mais ver os relatos da constituição do homem pantaneiro, um verdadeiro híbrido constituído por raízes cuiabanas, livramentanas, indígenas e paraguaias, dentre tantas outras origens, propiciadas historicamente pelo caráter cosmopolita de Corumbá dos áureos tempos mercantis.
Ao mesmo tempo em que relata a história da ocupação pantaneira, Abílio de Barros traça um perfil dos seus habitantes abordando temas como: a relação do homem com a terra, com o gado, com seus patrões, a mulher pantaneira e sua importância familiar, o sexo, a montaria, os instrumentos de trabalho. É fascinante perceber como, desde o século XIX, essa região consegue propiciar uma integração homem-boi-natureza dentro de um contexto sóciocultural único, baseado muitas vezes em relações de confiança e que mantém hábitos totalmente peculiares.
É impossível para mim ler essa obra sem me reportar à infância, às férias da fazenda, aos meus avós paternos cuja origem paraguaia é maravilhosamente apresentada no livro e da qual me orgulho muito.
Com meu avô, tio e primos, num pretérito perfeito. 

Meus saudosos avós.

Ao terminar as 293 páginas deste livro, me senti ainda mais ligado ao Pantanal: pelos Barros, pelos Rondon, pelos grandes cavaleiros índios guaicurus, pelos meus avós paraguaios e seu espírito de luta, pela constituição do povo corumbaense. E fico feliz por ser assim...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Não à meritocracia nas escolas

Interessante a reportagem da UOL (leia aqui) sobre a premiação dos melhores colocados no Saresp 2011 (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). Aqui no Mato Grosso do Sul o governo começou a implementar esse método de premiação dos "melhores" alunos com notebooks, com direito à cerimônias e discursos na mídia local.
Sou totalmente contra o uso da meritocracia nas escolas como instrumento de "estímulo" ao estudo. Na minha opinião, isso só estimula a competição, o individualismo, a não-colaboração e a frustração dos milhares de alunos que nunca receberão um "prêmio", pois nunca serão os "melhores". Passa-se a estudar pelo prêmio e não pelos benefícios da aprendizagem constituída.
O que é ser o melhor aluno? Resume-se às notas finais? E o processo, conta? E o aluno que tinha extrema dificuldade de aprendizagem e, com muito esforço e dedicação, melhorou seu rendimento, merece algum "prêmio"? Algum dia será reconhecido por aquilo que luta?
Alguns afirmam que as crianças precisam ser preparadas para o que irão enfrentar no futuro mundo do trabalho. Pois que enfrentem os problemas lá! A escola não é uma mini-empresa, onde todos devem sofrer os assédios e discriminações que enfrentarão lá fora. A escola é um espaço de construção sócio-histórica, é o lugar onde o indivíduo se compreende como um ser social e deve ser preparado sim, mas para a vida social. E essa vida não se resume ao mundo do trabalho. 

Leia também esse ótimo texto: "Meritocracia: Críticas e dificuldades"

sábado, 15 de outubro de 2011

O que é ser professor?

Marcelo Cunha Bueno - Revista Crescer (Para ler a coluna clique aqui)

Ser professor... uma geografia da disposição, da relação.
Para mim, ser professor é uma escolha.
Pensar nessa figura, nesse habitante da escola, é pensar em alguém que escolheu dedicar seus passos aos outros. Um habitante que se confunde com a própria escola, que se torna um espaço de atravessamento dos outros, dos saberes, das culturas. Esse habitante é o parceiro, o companheiro, aquele que desafia, que frustra, que apresenta caminhos.
Aprendi a ser professor sendo professor. Tornei-me professor quando percebi que ser professor não é professar linhas, métodos ou didáticas. Ser professor é abrir-se ao outro, às relações. Ser professor é ter uma disposição, uma disponibilidade para ser atravessado pelo mundo. É deixar de ser e ser um outro a todo instante.
Aprendi a ser professor com olhares, com gestos, com as palavras de meus estudantes. Sempre soube que ser professor era colocar-se entre um ensino e uma aprendizagem... um lugar onde a educação é relação... daqueles que se dispõem a atravessá-la. Um espaço de “ensinagem”, da união entre ensino e aprendizagem. Nesse espaço, o professor é estudante, o estudante é professor, a escola é a afirmação de um espaço relacional.
Gosto de pensar e conviver com um professor que provoca encantamentos, mas que também se deixa encantar por seus estudantes. Encantamentos pelos temas de trabalho, por seu estudo, pelas crianças, por suas escolhas. Alguém que se dispõe aos encantamentos. Um encantamento que movimenta, provoca, desloca, faz com que queiramos sempre mais.
Para ser esse habitante da escola, é preciso provocar e ser provocado. É essa dinâmica, esse jogo, essa relação, que transforma o professor em estudante! Professor-estudante que se joga nas brincadeiras, nas relações, que dá limites, fronteiras, espaços, que cuida de seu grupo, que cuida de cada um que convive com ele. Alguém que se joga na cultura, enriquece linguagens, compromete-se com as suas escolhas.
Professor-estudante precisa de estudo. Tem de se jogar nas letras e livros, nas imagens e sons, nas ideias e pensamentos, nas conversas e discussões. Ler, escrever, discutir, escutar música, ver filmes, saber e sentir as coisas que passam pelo mundo afora... São condições para a ampliação das linguagens que se constroem dentro do espaço escolar.
Pensar no que representa ser professor é pensar na minha vida, com toda a intensidade, todo o afeto e todo o carinho que sinto por ser esse habitante da educação. Quero contar uma história vivida... atemporal, sentimental e que expressa a costura entre ser professor e estudante... das coisas simples e marcantes que essa relação pode nos provocar, transformando toda uma vida. Ainda bem que eu vivi e vivo ser um professor!

Todo bom começo tem um bom professor.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Função docente no século XXI

Compartilho um interessante vídeo que descreve os desafios da docência frente às necessidades educacionais do século XXI.
Muda-se o cenário mas os atores continuam os mesmos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O mestre dos mestres...

"Não nasci, porém, marcado para ser um professor assim. Vim me tornando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas ou à prática de outros sujeitos, na leitura persistente, crítica, de textos teóricos, não importa se com eles estava de acordo ou não. É impossível ensaiarmos estar sendo deste modo sem uma abertura crítica aos diferentes e às diferenças, com quem e com que é sempre provável aprender.
Uma das condições necessárias para que nos tornemos um intelectual que não teme a mudança é a percepção e a aceitação de que não há vida na imobilidade. De que não há progresso na estagnação. De que, se sou, na verdade, social e politicamente responsável, não posso me acomodar às estruturas injustas da sociedade. Não posso, traindo a vida, bendizê-las.
Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social de que nos tornamos parte."

Paulo Freire (1921-1997)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Quem cola gosta da escola?


Hoje resolvi falar de um tema muito recorrente nas salas de professores e rodinhas de alunos: a cola. Não adianta negar: todo mundo já colou ou passou uma colinha “inocente” pelo menos uma vez na vida escolar. Seja aquela fórmula escrita na carteira, nas pernas, nas mãos, sejam as famosas “sanfoninhas” impressas com fonte tamanho 0,5 (e o cabra mesmo assim consegue ler na hora do desespero), o fato é que este mal perdura no sistema escolar e se aperfeiçoa com o advento de novas tecnologias, como os smarphones, por exemplo.
Como professor, eu repudio qualquer tipo de cola, pois elaboro minhas provas considerando o que o aluno deverá saber e não no que ele deveria ter decorado. Como aluno, sempre me revoltei ao ter que decorar fórmulas. Confesso que em várias situações coloquei as famigeradas na carteira. Mas a aplicação das mesmas sempre esteve na “cachola”. Quando prestei vestibular, as fórmulas eram impressas na capa dos cadernos de prova. Cabia a nós candidatos saber aplicá-las nos problemas propostos. E assim fui feliz e entrei pra faculdade.
A cola se constitui num verdadeiro jogo de “gato e rato” entre professor e alunos. É uma triste realidade: o professor passeando os olhos pela sala como uma “sentinela dos infernos” e os alunos esperando o menor dos deslizes para agirem. Os que conseguem não se contentam em apenas transgredir o processo como sentem a necessidade de “cantar vitória” para os colegas depois da prova. O professor, quando “pega o malandro com a boca na botija”, praticamente arranca sua cabeça para exibi-la na sala dos professores como um troféu.
Qual a razão disso tudo?
Acredito na existência de diversos perfis de alunos que colam: o aluno que não quer estudar mesmo, o aluno que não consegue decorar mas sabe que o professor cobrará isso, o aluno que quer protestar contra o sistema avaliativo, o aluno que nem sabe o porquê de estar colando, entre outros. Mas defendo que a cultura da cola deve ser combatida não apenas com o processo punitivo da descoberta, mas também com uma profunda reflexão sobre o nosso sistema avaliativo. Será que realmente avaliamos a aprendizagem dos nossos alunos ou apenas encenamos uma peça na qual os personagens protagonizam um jogo de forças?
Considero o formato de avaliação atual extremamente injusto, somativo, classificatório, punitivo. A avaliação é usada como instrumento de controle, aquilo que garantirá o “comportamento adequado” da turma durante as aulas, quando na verdade deveria ser formativa e processual, permitindo ao aluno uma reflexão sobre sua própria aprendizagem e os caminhos percorridos na construção do seu conhecimento. Mas mesmo assim acredito que o ato de colar não se constitui no melhor instrumento de protesto.
Quem cola está enganando apenas o professor? Não. O maior enganado e trapaceado é ele mesmo, principalmente se considerarmos um contexto de formação profissional. Que tipo de profissional ele será? E o pior de tudo: que tipo de cidadão ele será?

Existem dois grandes culpados nesse processo: a escola, por querer uniformizar os alunos quanto aos seus processos cognitivos; e o aluno, por valorizar a transgressão ao invés de buscar meios de favorecer sua própria aprendizagem. A não discussão do tema leva à formação de um indivíduo que eternamente buscará burlar os processos, como no caso da compra de monografias denunciada na reportagem abaixo. Um indivíduo que prefere pagar por algo pronto ao invés de aprender, de crescer, de evoluir.


Ainda voltarei com esse tema. Ele nunca se esgotará.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

As gerações da pós-modernidade

Achei interessante esse vídeo. Ele faz um percurso histórico das gerações pós-modernas, apresentando o contexto histórico de cada época, o que permite compreender melhor algumas transformações. Apesar de levemente criticar a Igreja Católica e o homossexualismo, vale pela linha do tempo que apresenta. Fica a dica:


Pelo que lutamos?

ENEM pra quê? Pra quem? Por quê?


E mais uma vez são divulgados os resultados do ENEM. E mais uma vez a mídia "sapateia" sobre números de forma empírica e sensacionalista, destacando as escolas "campeãs", buscando um perfil de escola que seja sinônimo de "sucesso" no Exame. "Escola boa é escola que passa meu filho no vestibular", pensam os pais. Será?
Alguém se lembra o real motivo da criação do ENEM?
O Exame Nacional do Ensino Médio, como o próprio nome diz, foi criado em 1998 para "aferir a qualidade" do anos finais da Educação Básica no Brasil, ou seja, o Ensino Médio. Entretanto, com o passar dos anos, buscando maior adesão por parte dos estudantes, o governo federal passou a usar seus resultados como mecanismo de ingresso para as universidades públicas. Até aí tudo bem, se tal mudança não tivesse transformado o Exame num grande vestibular, praticamente uma Fuvest. A adesão das universidades foi rápida, pois simplificou todo o processo de exame seletivo. "Para que organizar um vestibular se podemos simplesmente usar uma nota pronta?", pensam as instituições.
Na minha opinião, o ENEM perdeu o seu sentido original e não pode ser tomado como único instrumento de avaliação da qualidade, uma vez que tais resultados são usados como ferramenta de marketing pela rede privada de ensino e o aluno faz até cursinho para a prova.
Como medir a qualidade de uma escola se o aluno faz cursinho para o ENEM?
Aí vem a mídia com manchetes do tipo "Método do primeiro colocado do Enem remete ao século 19, diz especialista da USP", "Melhor nota no Enem 2010, colégio carioca investe em 'fundamental forte e com disciplina'", "Colégio com melhor média no Enem na PB revela preparação específica", entre outras que revelam uma necessidade de apontar campeões e fracassados e fórmulas de sucesso.
Como educador, eu repudio o uso puro e simples da Estatística como instrumento de medição de qualidade. Aferir a qualidade na educação é um processo sociohistórico muito mais complexo do que os resultados numéricos de um exame que não tem 100% de adesão dos estudantes e implica em preparação prévia para os mais ricos. O ENEM passou a ser o objetivo do ensino. Isso é pura lógica do exame, impregnada na nossa educação desde os tempos dos jesuítas e reforçada por políticas que criam índices para uso em campanhas eleitorais.
Quando o aluno só pensa em vestibular, ele ignora todas as outras possibilidades da educação, deixa de lado a sua formação para a cidadania, para a ética, para cumprir seus deveres e exigir os seus direitos. Passa apenas a pensar numa prova que abre as portas para a universidade e, ao adentrá-la, descobre que precisará de todo o resto que ignorou. Estão aí os índices de evasão nas universidades para comprovar que a grande maioria dos "campeões do ENEM" nem sempre são os "campeões da faculdade". Sabe por quê? Porque A EDUCAÇÃO É FORMAÇÃO PARA A VIDA e não para uma prova com dia e horas marcados.

Dica de vídeo sobre o assunto: MTV Debate

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O "sagrado" laboratório de informática

Notícia veiculada pelo site da Infoexame (leia aqui) comenta pesquisa na qual 64% dos professores entrevistados afirmam que seus alunos entendem mais de computador e internet do que eles próprios. Isso se deve, em parte, às dificuldades de acesso por parte dos docentes às novas tecnologias, principalmente na escola, onde os computadores - quando estes existem fora do contexto administrativo - ficam concentrados em laboratórios trancados à sete chaves e, mesmo assim, possuem infraestrutura inadequada.
Infelizmente o laboratório de informática ainda é tratado como um lugar "sagrado" e "inacessível". Deve ficar trancado e só deve ser liberado no momento da aula. O professor que quiser utilizá-lo deverá fazer reserva e assinar milhares de termos de compromisso. Resultado: desinteresse e medo.
O computador deve ir para a sala de aula. Deve ser inserido em todo o processo de ensino e aprendizagem. Deixá-lo num único lugar, trancado, o afasta de uma real integração com este processo. Além do mais, o professor precisa se apropriar desses recursos de forma efetiva e não apenas como "complemento esporádico" de suas aulas. A realidade é que o professor deve "se virar" esfregando pedra de cal numa parede verde (ou preta) e, eventualmente, "incrementar" suas aulas levando seus alunos para o "sagrado laboratório". Não me venham dizer que isso é advento das tecnologias.
Triste. Mas esta é a realidade.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A (indi)gestão escolar


Arquivo pessoal
A notícia veiculada essa semana sobre um menino de 8 anos de idade, morador de São José do Rio Preto/SP, que foi repreendido pela diretora da escola onde estudava por gostar de rock pesado é mais um daqueles episódios patéticos que jogam na nossa cara o qual inútil ou inexistente é a formação dos gestores escolares no Brasil. Primeiramente, já é espantoso o fato de que o menino tenha sido mandado para a sala da diretora no primeiro dia de aula, simplesmente por batucar na carteira, simulando uma bateria. Isso já denotou total inabilidade da "professora". Mas nada supera a "sapiência" da diretora, que teve a "sensibilidade" de buscar na internet capas dos discos da banda Iron Maiden e dizer "serenamente" ao menino que suas músicas preferidas evocam o demônio e celebram a morte. Resultado: o menino não queria mais ir para esse interessante ambiente escolar e se afastou de seu violão e guitarra por um tempo.
Mas o pequeno Marcelo mostrou uma real atitude "Rock & Roll": mudou de escola e está esperimentando um ambiente que inclui até aulas de instrumentos musicais. Graças a Deus (e não ao "demônio) sua família possui recursos para fazer as escolhas certas e poder mudar de escola.
Essa diretora, ao meu ver, no seu arroubo religioso, ignorou totalmente o bom senso e, o pior, poderia ter reprimido e jogado no lixo um talento musical, afinal o menino se interessa por instrumentos musicais desde muito cedo. Sua atitude só demonstrou preconceito, intolerância e despreparo para a função.
“Eu quis despertar nele uma reflexão para a realidade", disse a diretora Ana Maria Fernandes. Sim, cara diretora, você despertou muita reflexão para a realidade da gestão escolar brasileira, em grande parte nas mãos de pessoas tão despreparadas quanto aqueles que estão em sala de aula. Uma professora que despacha um menino para a direção no seu primeiro dia de aula na escola, aliada à uma diretora sem noção da cognição infantil me fazem refletir sobre quais demônios realmente devemos temer. Oremos.

Leia a notícia completa aqui.

sábado, 6 de agosto de 2011

Was a losing game

A morte de Amy Winehouse não foi surpresa para ninguém que acompanhou sua trajetória. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde seus excessos a levariam, mas sempre tínhamos a esperança de que o tempo fosse seu aliado. De que o tempo pudesse lhe devolver a alegria de viver e isso se refletisse ainda mais na sua extraordinária produção musical.
Amy – assim como Cazuza e Tim Maia – entrou para a história pop naquele grupo de artistas que não foram exemplo de vida saudável, mas que nos deixaram um legado musical incontestável em termos de qualidade. Sua voz poderosíssima, aliada ao ritmo envolvente da Soul Music nos faz ouvir “Back to Black” do começo ao fim, sem pular sequer uma música. As letras expõem uma dor pessoal que chega a nos envolver nesse sofrimento e entender melhor as angústias e medos dessa inesquecível cantora.
Talvez uma grande desvantagem de Amy foi ter nascido na Inglaterra, um país cuja população adora um escândalo e acompanha a decadência de seus famosos com um prazer mórbido nos tablóides. Vende-se muito mais a desgraça do que a redenção. Fato. E o Brasil não se difere muito nesse aspecto.
É muito triste ouvir ou ler opiniões de pessoas que acham sua morte merecida. O pior é afirmarem que sua música não merece ser ouvida ou que seus fãs idolatram as drogas e o álcool. Não fumo, não bebo, não cheiro, mas gosto muito de Amy Winehouse. Isso é proibido? Não vivo a vida do artista. Ouço sua música. Ponto.
Se o artista é um assassino ou bate na mulher, a minha postura é outra. Agora, se ele simplesmente se autodestrói, só me resta lamentar e torcer para sua ascensão.
Acredito que se as pessoas se afundam não é por culpa do artista, mas das próprias pessoas que não tem opinião própria e acham que suas vidas devem ser uma cópia da vida de alguém do showbizz. A mídia tem grande parcela de culpa nisso, principalmente quando valoriza os tropeços dos artistas. Mas o que realmente falta às pessoas é personalidade e educação suficiente para saberem separar as coisas.
Quando Cazuza dizia que os seus heróis morreram de overdose, talvez tivesse lamentando o fato daqueles os quais ele admirava terem perecido e calado suas vozes de protesto. Ou não. O fato é que as pessoas de mente fraca simplesmente acham que sua frase reduz-se a uma apologia ao uso de drogas. Azar de quem acredita nisso...
Amy deixará saudades para todos que curtem sua voz marcante e suas letras carregadas de emoção. Sua versão para “Cupid”, de Sam Cooke, também é maravilhosa.
R.I.P. Amy!
Straight to my lover's heart for me

Ouça o álbum Back to Black na Rádio UOL clicando aqui.

Class of Claudim

Uma homenagem do meu grande amigo Anderson Lima, professor da UFMS Ponta Porã:




Quando torcer perde o sentido

Todos que me conhecem sabem que eu detesto jogar futebol – talvez um trauma das aulas obrigatórias “rola bola” de Educação Física na escola – mas gosto de assistir (sim, uma estranha equação). Tenho o meu time de coração – que EU ESCOLHI – e adoro as emoções da Copa do Mundo. Entretanto, nunca perdi meu sono por conta de um jogo de futebol, e é aí que vou concentrar a discussão deste post.
Assistindo televisão ou navegando na internet, são inúmeros os depoimentos de pessoas que se dizem “loucas” ou “vivem” pelo seu time de futebol. Concordo com elas, pois só sendo maluco mesmo para vincular sua vida a um esporte a tal ponto de sair pintando a casa com as cores do time ou inventando nomes ridículos para os seus filhos por conta de ídolos que nem sequer sabem da sua existência. Acabei de ver na tv um depoimento de um senhor dizendo que, depois de ver o seu time com estádio, poderá morrer. Como assim? Que coisa ridícula!
Esporte é entretenimento. Quando esse objetivo se perde é que surgem as notícias de violência nos estádios, violência doméstica, gente perdendo o emprego para assistir a um jogo, deixando de sair com os amigos por conta de uma final qualquer, agredindo pessoas verbal, moral ou fisicamente por conta do seu time, entre outros casos absurdos e patéticos que vemos todos os dias na mídia e, o pior, pessoalmente.
Considerar todo torcedor do Corinthians bandido, do Flamengo analfabeto-favelado e do São Paulo homossexual são apenas alguns exemplos. Em todos os casos, o objetivo é tornar a pessoa “menos digna” por conta de um time. Ao chamar alguém de bandido, atrela-se o caráter da pessoa ao seu time como se fosse algo genético. A questão do analfabetismo é tão séria na história do Brasil que a pecha de “analfabeto” passa a ser sinônimo de indignidade perante a sociedade. O homossexualismo dispensa comentários, ainda mais no contexto do futebol, um esporte “de machos para machos”. Os três casos refletem o quão preconceituosa e machista a sociedade brasileira é. Sob a desculpa da “descontração” e do jeito “brincalhão” do brasileiro, as novas gerações perpetuam os preconceitos e valores equivocados.
É claro que os veículos da mídia valorizam o futebol. Ganham dinheiro com isso. Vendem imagens que passam a ser perseguidas por garotos e garotas. Fazem muitos meninos trocarem os estudos pelo sonho do glamour de uma vida de astro de futebol – coisa mais difícil que ganhar na loteria. Muitas meninas passam a se preparar para engravidar de um desses astros e “garantir o futuro” – coisa não tão difícil quanto virar um astro. É uma deturpação tão grande que me entristece profundamente, pois considero a educação como meio de transformação. Não tiro o mérito do esporte como grande catalisador de talentos. Apenas não compreendo como o caráter excludente do binômio esporte-educação é tão difundido pelos péssimos exemplos que temos com os astros do futebol.
Afirmo mais uma vez que gosto de futebol, mas não jogo. Não sei todos os termos. Não sei a escalação completa do meu time. Entendo que quem tem que saber tudo isso são os comentaristas, que vivem disso. Conversa sobre jogo pra mim não pode passar de 5 minutos (ô coisa chaaaaaaaata). Tenho o meu time, torço, me alegro quando ganha, me chateio quando perde, mas nada se altera na minha vida em função de vitórias ou derrotas de um time de futebol. Graças a Deus...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Li e recomendo

1808 (Laurentino Gomes)
Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil

Em 2010 eu participei de um congresso sobre TIC e Educação em Lisboa. Pela primeira vez saí do Brasil - afinal, Bolívia e Paraguai não contam para um sulmatogrossense, né? - e foi uma semana de intensas experiências na minha vida. Aproveitei e andei muito pela cidade (a pé, de metrô, trem, ônibus) conhecendo lugares históricos e muito emblemáticos para nós brasileiros. Vendo todos aqueles castelos e monumentos, me bateu uma vontade enorme de conhecer mais o período colonial, principalmente quando conheci o Palácio de Queluz. Sempre gostei muito de História, especialmente História do Brasil, por achar que é essencial que conheçamos nosso passado para compreendermos o nosso presente e melhor planejarmos nosso futuro. Mas ver as lembranças de nossas origens tão de perto mexeu comigo.

Assim, no início desse ano, comprei dois livros-reportagem do jornalista Laurentino Gomes: 1808, contando a saga da família real portuguesa e sua fuga ao Brasil, e 1822, uma espécie de continuação, abordando o período da proclamação da nossa independência e início do império brasileiro. Acabo de ler o primeiro livro e já comecei a "devorar" o segundo pois são textos deliciosos e sem enrolação, trazendo descobertas e curiosidades com toques de humor.
Em 1995, Carla Camurati produziu o filme "Carlota Joaquina - Princesa do Brasil", considerado o primeiro da chamada "retomada" do cinema nacional. Apesar de ser caricato, também recomendo pela maravilhosa atuação de Marieta Severo no papel da geniosa e ambiciosa espanhola que vivia tentando dar um golpe no seu marido e tomar o poder.


Em 2002 a Globo produziu a série "O Quinto dos Infernos", também abordando o fim do Brasil-Colônia numa comédia pastelão 100% Carlos Lombardi (quem não se lembra do bordões "Carlotinha!" e "Ai Jesuis" do Dom João VI e do peladão-pegador Dom Pedro?). Também vale pelas risadas...

Para quem tiver interesse, seguem os vídeos de um pequeno documentário apresentado pelo próprio Laurentino, resumindo o período de maior transformação do Brasil-Colônia e considerado o início do nosso processo de independência.





Conhecer esse período nos ajuda a compreender muito da nossa cultura e do "jeitinho brasileiro" de ser.

domingo, 19 de junho de 2011

A Velha a Fiar

Depois de um tempo sumido do blog, volto para compartilhar um vídeo que sempre me chamou atenção pela criatividade e inovação para a época em que foi criado. O curta "A Velha a Fiar", de 1964, é considerado o primeiro videoclipe brasileiro e talvez um dos primeiros do mundo. Dirigido pelo cineasta Humberto Mauro (1897-1983), o curta retrata em imagens a música muito conhecida no cancioneiro nacional e utilizada por professores de séries iniciais para estimular o raciocínio, a atenção e a memória, trazendo um encadeamento de situações onde sempre um "fal mal" ao outro. Também é ótima para se trabalhar no teatro, com técnicas de cinema mudo. A execução musical ficou por conta do Trio Irakitan.

Confira:

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mudanças?

O humano antecede o artista

Eu tive uma prima que, infelizmente, partiu muito cedo desta vida. Nos idos dos anos 80, em plena "Era Menudo", me lembro dela, então com 11 anos, enlouquecida pelos portoriquenhos. Dentre os garotos daquela formação estava Ricky Martin, tão moleque quanto eu e hoje internacionalmente conhecido.
Bom, todos sabemos a história dele, inclusive as últimas "revelações". Nunca fui um fã incondicional, mas gosto de várias músicas dele, principalmente as que trazem uma batida latina, puxando a salsa, a rumba e até mesmo o samba.
Eu acabo de ler a sua autobiografia "Eu", lançada em 2010. Trata-se de um livro que não pretende ter uma intensa profundidade literária, mas vejo que seu objetivo é o de mostrar que todo artista é, antes de tudo, um ser comum no seu cotidiano, com tantas angústias quanto nós que não atuamos nesse meio profissional. Lendo o livro, passei a admirá-lo não apenas pelo talento, mas pela pessoa sensata, comprometida com questões sociais e muito ligado à sua família. Uma pessoa que saiu de uma profunda depressão ao perceber-se como um ser humano inacabado e com direito a ter problemas. Da entrada no Menudo aos 12 anos aos fenônomenos "Maria" e "Livi'n la vida loca" e depois a um período negro de vazio não-aceitação, mostra como é fácil ir do céu ao inferno em um curto período de tempo, assim como também prova que é possível inverter esse processo buscando forças dentro de si mesmo.

O fato dele ter revelado sua homossexualidade é apenas um ponto em sua vida. Mas, infelizmente, é o fator no qual as pessoas mais se apegam, como se toda a vida de uma pessoa e até mesmo o seu talento se resumisse à sua vida sexual. Talvez fosse verdade, se ele fosse um ator pornô, mas não é o caso.
Ricky Martin mantém um sério trabalho de luta contra o tráfico de crianças por meio de sua fundação (veja mais detalhes). Fez campanhas beneficentes para as vítimas dos tsunamis na Ásia em 2004 e do terremoto do Haiti em 2010, dentre outras ações humanitárias dentro de suas possibilidades financeiras e de influência junto ao meio artístico e político, como a doação de kits para incentivar o ensino de música nas escolas públicas de Porto Rico. Mas como isso não rende piadinhas e nem escândalos, fica adormecido nos arquivos da mídia. Além de "não ter graça", nos faz lembrar que pouco fazemos por uma melhoria do mundo à nossa volta.
Ao contrário de outros artistas, por exemplo, cujos "heróis morreram de overdose", vejo Riky Martin não como um exemplo a ser venerado e seguido, mas alguém que tem uma história de superação e aceitação que, ao menos, merece ser ouvida e respeitada. Devemos lembrar que o humano sempre antecede o artista e que, por essa razão, não tem obrigação alguma de escancarar sua privacidade. É fato que ninguém tem a obrigação de aceitá-lo mas deve, ao menos, respeitá-lo.
O vídeo a seguir mostra um trecho do seu Acústico MTV, um trabalho muito legal e com belíssimas músicas que denota bem esse período de "resgate de si mesmo". Essa música é uma versão de "Via Láctea", do Legião Urbana.
Cuando todo esta perdido, siempre queda una salida...

sábado, 7 de maio de 2011

Vídeo: Oito Desafios da Formação de Professores

Interessante fala da Professora Doutora Bernadete Gatti sobre a formação de professores e a construção de sua identidade. O vídeo produzido pela revista Nova Escola divide-se em duas partes:


Armas na escola: uma triste realidade

Notícia na UOL: "Armas na escola: mais de 1.400 diretores dizem presenciar a situação com frequência".

Leia o texto na íntegra clicando aqui.

Cômico se não fosse trágico.

Li, assisti e recomendo

1984 (George Orwell)

A maioria dos admiradores de programas como Big Brother, A Fazenda e Casa dos Artistas certamente não sabem que o formato foi inspirado numa importante obra literária de George Orwell. Escrito em 1948 e publicado meses antes da morte de Orwell, o livro 1984 traz uma inteligente, provocante e ácida crítica aos regimes totalitários e à alienação provocada pelos aparelhos ideológicos do Estado, com atenção especial às mídias.


Sinopse: Depois da guerra atômica, o mundo foi dividido em três estados e Londres é a capital da Oceania, dominada por um partido que tem total controle sobre todos os cidadãos. Winston Smith é um humilde funcionário do partido e comete o atrevimento de se apaixonar por Julia, numa sociedade totalitária onde as emoções são consideradas ilegais. Eles tentam escapar dos olhos e dos ouvidos do "Big Brother", sabendo das dificuldades que teriam que enfrentar. [...]Winston Smith é um funcionário do governo totalitarista liderado pelo "Grande Irmão", uma "entidade" que, através de telões, controla a privacidade de todos os cidadãos do país. Certo dia, ele recebe um bilhete de uma bela garota, Julia, a quem conhecia de vista: "Eu Te Amo", lê, espantado. A partir daí, Winston passa a sair com a garota, desafiando as leis do país, que aboliram o orgasmo e incentivam a inseminação artificial. Winston e Julia desafiam, com seu amor, o próprio Sistema, que prega o ódio como maneira de subjugar seus oponentes. Prazeres simples (porém ilegais), tais como provar geléia com pão e beber café "de verdade", passam a fazer parte da rotina do casal, que redescobre o valor da fidelidade e do calor humano.

1984 é considerado uma das obras mais influentes do século XX. O futuro projetado no livro dá a impressão de que Orwell viajou no tempo e viu com os próprios olhos algumas das situações que vivenciamos hoje. Apesar de ser uma crítica clara à União Soviética, extinta há mais de 20 anos, o controle das mídias e a alienação que as mesmas podem provocar ainda são uma realidade no nosso mundo.
Eu recomendo a leitura do livro e depois a contemplação do filme baseado na obra, uma das raras vezes em que uma adaptação literária funcionou nas telonas. Confira um trecho:

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Revista Nova Escola completa 25 anos

Em 1995 eu estava no 2º ano do Magistério, pedi e ganhei de aniversário uma assinatura da revista Nova Escola. A partir de então sempre tive suas reportagens como uma apoio às minhas práticas, principalmente no período em que atuei nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Como toda revista, às vezes publica algumas bobagens ou dá a voz a algumas personalidades um pouco duvidosas, mas no geral é uma ótima fonte para os professores que realmente se preocupam com sua formação continuada, dentro de uma perspectiva de prática reflexiva. O site da revista também é ótimo e traz informações que realmente podem enriquecer uma sala de aula.
O vídeo abaixo apresenta um pouco dos bastidores da comemoração dos 25 anos da revista.


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ensino Superior, Educação Inferior


No caderno de educação da UOL foi divulgada uma pesquisa que aponta o Brasil como último colocado entre os chamados países emergentes no que diz respeito ao número de habitantes com curso superior completo. Apenas 11% dos brasileiros com idade entre 25 e 64 anos têm ensino superior, enquanto países como Chile e Rússia possuem índices de 24% e 54%, respectivamente. (leia a matéria completa aqui)
Eu realmente me preocupo com esse baixo índice, mas me preocupo mais ainda com as medidas que os governantes tomam para aumentá-lo. O grande discurso do governo concentra-se no aumento de vagas nas universidades públicas mas pouco se faz quanto à qualidade do processo de formação desses estudantes, assim como as condições para que os mesmos consigam concluir seus estudos, ou seja, preocupam-se com o "antes" e o "depois", mas acabam por ignorar o "durante". Resultado: universidades sucateadas, professores arroxados e qualidade questionável de seus cursos.
Quando raramente pensa no processo, o governo - em sua visão reducionista dos problemas - toma medidas ridículas como reduzir a nota mínina nas federais para 5,0 e obrigar os reitores a assinarem um termo de "compromisso" de 90% de aprovação dos universitários (isso quer dizer que espera-se que 90% dos alunos se formem com 50% de aproveitamento do curso). Como é possível garantir essa aprovação? Melhorar a qualidade de um curso implica em diminuir sua exigência de aproveitamento? Corremos o grande risco de levar nosso ensino superior à uma educação inferior, ou seja, em nome de um aumento na quantidade de pessoas com diploma, abre-se mão da qualidade na formação desses indivíduos.
O que quero deixar claro é que deve sim ocorrer aumento do acesso (eu mesmo me graduei numa universidade federal e sei da importância dessa oportunidade na minha vida), mas o MEC deve intervir também no processo, garantindo qualidade ao seu corpo docente por meio de subsídios para que os professores façam mestrado e doutorado, ampliando os acervos nas bibliotecas, permitindo que seus estudantes adquiram computadores e tenham acesso à internet, fornecendo bolsas de permanência, ampliando o mercado de estágio, garantindo a qualidade da alimentação nos restaurantes universitários, permitindo a aquisição mais acessível de livros e revistas científicas, entre outras inúmeras ações que vão muito além de uma mera redução de média final.
Alguém precisa alertar os governantes de que a Educação é algo muito mais sério e complexo do que eles imaginam. Entretanto, até o presente momento, parece-se que as estatísticas são muito mais importantes.

sábado, 9 de abril de 2011

O massacre que a todos feriu


O Brasil chora pelas crianças cujas vidas foram interrompidas tão brutalmente na última quinta-feira no Rio de Janeiro, no episódio que tristemente já entrou para a história como o Massacre de Realengo. Nós, que nos orgulhávamos de nunca termos vivenciado um massacre em uma escola - afinal, isso era coisa de "americano doido" - agora percebemos o real significado do termo "globalizado". Não há o que não possa acontecer em qualquer país deste planeta, cujas vidas de todos os seus habitantes se vêem conectadas numa grande teia de acontecimentos. É o verdadeiro efeito borboleta.
Todos os dias cerca de 94 pessoas morrem vítimas de armas de fogo apenas no Brasil. Mas esse massacre envolveu adolescentes e isso nos dói muito, nos deixa vulneráveis, nos chama para a realidade de maneira muito mais cruel, nos joga na cara que não estamos conseguindo proteger nossas crianças, nossos meninos e meninas, nossas esperanças de um mundo melhor.
A mídia explora de todas as formas esse massacre e nos faz ter a certeza de que realmente vivemos na sociedade do espetáculo. Entretanto, não se trata de uma novela cujo final feliz sempre acontece. É o mundo real, é a vida, é o Brasil, é uma escola, são crianças que nunca chegarão a ser adultos. A todo momento alguém noticia mais alguma característica do atirador, mas poucos se perguntam a respeito do meio que o gerou, do percurso social e histórico que o levou até o momento em que a sanidade lhe abandonou. Eternamente nos questionaremos: fomos nós que o criamos? Quantos meninos neste momento passam pelo que ele passou e podem vir a se espelhar nele num futuro sombrio? Qual a solução? Aquartelar nossos meninos e meninas nas escolas, atrás de grades e cadeados e detectores de metais? E quando o sino bater, quem os protegerá?
Numa sociedade que lota cinemas para ver filmes que valorizam a violência gratuita, vendem carros "velozes e furiosos", glamourizam a prostituição, fazem meninas desejarem serem "mordidas" pelo grande amor vampiro, mostram escolas americanas e toda a deturpação das relações dentro de seus muros (o importante é ser popular, o atleta bonitão, a gatinha lider de torcida ou, no mínimo, saber cantar e dançar) fica fácil entender porque estamos tão vulneráveis. É triste a constatação de que não temos controle sobre nada e, o pior, nem sabemos para qual direção olharmos em busca de ajuda.
Atualmente eu atuo no Ensino Médio. Meus alunos têm praticamente as mesmas idades dos meninos e meninas mortos. Não tenho filhos mas o medo que senti na quinta-feira foi o de um pai que vê os seus filhos num mundo cruel e imprevisível. Um mundo criado e mantido por nós mesmos.
Oremos...


domingo, 3 de abril de 2011

Filme recomendado

Documentário: "Mais que imaginei"

Sinopse: "Mais que imaginei" é um documentário sobre a educação. Ele conta a história de três personagens que para atingir seus objetivos, derrubaram obstáculos e venceram preconceitos na busca pelo conhecimento. Também traz a história de Mariane, uma jovem que não se interessa pelos estudos e acredita que é desnecessário o investimento na educação. "Mais que imaginei" ilustra que é possível conquistar uma vida melhor por meio do conhecimento e levanta uma questão social importante: "O que seria da sociedade sem a educação como um dos elementos chave para o seu desenvolvimento?"


sábado, 2 de abril de 2011

Charges (para rir ou chorar)




Estudo Errado

Clipe do "Gabriel, O Pensador", na sua melhor fase.

Convenhamos: o que mudou desde 1995?

Não aprendi nada de bom mas tirei 10,0

O que é pós-moderno?

Essa semana, no doutorado, trabalhamos o livro "O que é pós-moderno", de Jair Ferreira dos Santos, que aborda o tema "pós-modernidade" de uma forma bastante irreverente. Um tema que deveria ser trabalhado sempre com nossos alunos, afinal, precisamos ter consciência da sociedade na qual estamos inseridos.


Segundo Ferreira, a massa pós moderna é "consumista, classe média, flexível nas idéias e nos costumes. Vive no conformismo em nações sem ideais e acha-se seduzida e atomizada (fragmentada) pelos mass media, querendo o espetáculo com bens e serviços no lugar do poder."
Sempre que houver oportunidade retomarei o assunto aqui no blog. Por enquanto, aprecie o vídeo a seguir, garimpado e apresentado pela minha amiga Eloá durante o seu seminário:

O sistema somos nós

Lembrança Escolar

Quem está na faixa dos trinta anos (como yo) certamente terá pelo menos uma foto de escola com a bandeira do Brasil. Eu tenho duas: uma tirada na 1ª série e outra na 4ª, quando eu era "pequetitinho" e cabeludo lá em Corumbá. Particularmente, eu adoro ver esse tipo de foto quando mexo no álbum de alguém. Parece que a vida escolar se valoriza mais. Os elementos que compõem uma foto dessas às vezes tem o muito o que nos dizer (o ano, a escola, os livros que você usava, o momento histórico que o país vivia, etc).

Primeiros passos: 1986

Entretanto, para mim, a maior estrela dessas fotos é, sem dúvidas, a bandeira brasileira. A sua presença me dá uma sensação de esperança para a educação do nosso país e uma necessidade de comprometimento com essa transformação. Uma mudança que deve partir de nós, brasileiros, muitas vezes patriotas apenas na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, quando pintamos as ruas e não temos vergonha de usar as cores do nosso maior símbolo e choramos ao ouvirmos o hino nacional.

Vivendo e crescendo: 1989

Só quem pode transformar a educação brasileira são os brasileiros. Muitos deles ainda adormecidos dentro de si mesmos.

Propagandas Inesquecíveis

Essa campanha do Itaú  Seguros, veiculada em 1993, é uma das propagandas mais lindas e sensíveis que já vi. Sempre que a vejo fico arrepiado e dá até vontade de ter um bacuri.

Impossível não se comover com isso....

segunda-feira, 28 de março de 2011

Eu sou de menor!


Quando eu estava no 4º ano do Magistério, num longínquo 1997, minha turma montou a peça "Capitães da Areia", baseada na obra de Jorge Amado. Foi um sucesso no "Dia da Literatura", evento no qual cada turma apresentava uma adaptação teatral de uma obra. Ao final da peça eu recitava sozinho no palco o poema "Balada para não dormir", publicado por Lourenço Diaféria. Não sei como consegui decorar um texto tão grande, mas deu tudo certo e me lembrei deste acontecimento quando vi o trailer do filme cuja estréia foi adiada para o 2º semestre deste ano (tô doido pra ver se o "Sem-Pernas" do filme é melhor do que o meu, hahaha). Segue o texto:

Eu não sou criança.
Eu sou de menor.
Criança tem pai, tem mãe, tem irmão.
Eu sou de menor.
De menor tem a vida.
Criança tem livro com figura colorida.
De menor tem o código.
Eu sou de menor.
Criança aparece em anúncio bonito pedindo brinquedo.
De menor não tem disso.
De menor é no dedo puxando o gatilho.
Criança tem disco do Carequinha e do Balão Mágico.
Eu sou de menor.
Eu escuto o Afanásio.
Criança tem idade, faz aniversário, apaga as velinhas.
Eu sou de menor.
Já nasci grande, sem mês e sem ano, apago velhinhas.
Criança é bobinha.
Eu sou de menor, imponho respeito.
Criança tem gênio.
Eu tenho mania.
Eu sou de menor.
Criança tem clube.
Eu sou de menor.
Eu tenho minha “gang”.
Criança tem sítio com pato, galinha, vaca,bezerro, carneiro, cabrito.
Eu sou de menor.
Eu tenho tudo isso, mas ganho no grito.
Criança mergulha no azul da piscina.
Eu sou de menor.
Eu nado, me afogo, na funda lagoa.
Eu sou de menor.
Se toco na banda, ninguém me elogia, prestigia.
Se engraxo sapato, ninguém diz: “legal”.
Eu sou de menor.
Eu guardo automóvel com cara de anjo, divido a grana com os caras marmanjos.
Me viro, me arranjo.
Como pastel, tomo caldo de cana, descolo ambúrguer de gente bacana.
Eu sou de menor.
Atravesso vitrô, eu furo parede, eu cavo buraco, eu salto muralha, eu miro no alvo, derrubo cigarro, endireito cano de curva espingarda, sento na borda da escada rolante, levanto os dois braços na montanha-russa.
Frequento os cinemas da avenida Ipiranga, e tudo que passa eu já sei de cor.
Eu sou de menor.
Nada tem graça.
Às vezes me escalam para ser criança.
É tarde demais.
Eu sou de menor.
Já morreu o sol da aurora da vida, saudades não tenho.
Eu sou de menor.
Sou a vidraça quebrada, pela pedra do adulto.
Sou o rosto molhado com a água da chuva.
Sou fliperama, o barraco, a marquise, sou dois olhos mordendo a luz da vitrina, escândalo sou sem a mó do moinho.
Eu sou o trapo enxotado da loja, o cara suspeito empurrando carrinho.
Sou o discurso jamais realizado.
Sou a face clara da fortuna escondida.
Sou o cão magrela do epular desperdício.
Sou o lado contrário do cabo da faca.
Sou a garrafa vazia jogada no mar, que volta coberta de restos da morte.
Eu sou a resposta que não espera perguntas.
Aqui estou. Nada mais sinto.
Apenas digo: Cuidado!
Não sou criança. Meu nome é: de menor.

Trailer do filme, dirigido por Cecília Amado e com trilha sonora assinada por Carlinhos Brown: