quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O "sagrado" laboratório de informática

Notícia veiculada pelo site da Infoexame (leia aqui) comenta pesquisa na qual 64% dos professores entrevistados afirmam que seus alunos entendem mais de computador e internet do que eles próprios. Isso se deve, em parte, às dificuldades de acesso por parte dos docentes às novas tecnologias, principalmente na escola, onde os computadores - quando estes existem fora do contexto administrativo - ficam concentrados em laboratórios trancados à sete chaves e, mesmo assim, possuem infraestrutura inadequada.
Infelizmente o laboratório de informática ainda é tratado como um lugar "sagrado" e "inacessível". Deve ficar trancado e só deve ser liberado no momento da aula. O professor que quiser utilizá-lo deverá fazer reserva e assinar milhares de termos de compromisso. Resultado: desinteresse e medo.
O computador deve ir para a sala de aula. Deve ser inserido em todo o processo de ensino e aprendizagem. Deixá-lo num único lugar, trancado, o afasta de uma real integração com este processo. Além do mais, o professor precisa se apropriar desses recursos de forma efetiva e não apenas como "complemento esporádico" de suas aulas. A realidade é que o professor deve "se virar" esfregando pedra de cal numa parede verde (ou preta) e, eventualmente, "incrementar" suas aulas levando seus alunos para o "sagrado laboratório". Não me venham dizer que isso é advento das tecnologias.
Triste. Mas esta é a realidade.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A (indi)gestão escolar


Arquivo pessoal
A notícia veiculada essa semana sobre um menino de 8 anos de idade, morador de São José do Rio Preto/SP, que foi repreendido pela diretora da escola onde estudava por gostar de rock pesado é mais um daqueles episódios patéticos que jogam na nossa cara o qual inútil ou inexistente é a formação dos gestores escolares no Brasil. Primeiramente, já é espantoso o fato de que o menino tenha sido mandado para a sala da diretora no primeiro dia de aula, simplesmente por batucar na carteira, simulando uma bateria. Isso já denotou total inabilidade da "professora". Mas nada supera a "sapiência" da diretora, que teve a "sensibilidade" de buscar na internet capas dos discos da banda Iron Maiden e dizer "serenamente" ao menino que suas músicas preferidas evocam o demônio e celebram a morte. Resultado: o menino não queria mais ir para esse interessante ambiente escolar e se afastou de seu violão e guitarra por um tempo.
Mas o pequeno Marcelo mostrou uma real atitude "Rock & Roll": mudou de escola e está esperimentando um ambiente que inclui até aulas de instrumentos musicais. Graças a Deus (e não ao "demônio) sua família possui recursos para fazer as escolhas certas e poder mudar de escola.
Essa diretora, ao meu ver, no seu arroubo religioso, ignorou totalmente o bom senso e, o pior, poderia ter reprimido e jogado no lixo um talento musical, afinal o menino se interessa por instrumentos musicais desde muito cedo. Sua atitude só demonstrou preconceito, intolerância e despreparo para a função.
“Eu quis despertar nele uma reflexão para a realidade", disse a diretora Ana Maria Fernandes. Sim, cara diretora, você despertou muita reflexão para a realidade da gestão escolar brasileira, em grande parte nas mãos de pessoas tão despreparadas quanto aqueles que estão em sala de aula. Uma professora que despacha um menino para a direção no seu primeiro dia de aula na escola, aliada à uma diretora sem noção da cognição infantil me fazem refletir sobre quais demônios realmente devemos temer. Oremos.

Leia a notícia completa aqui.

sábado, 6 de agosto de 2011

Was a losing game

A morte de Amy Winehouse não foi surpresa para ninguém que acompanhou sua trajetória. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde seus excessos a levariam, mas sempre tínhamos a esperança de que o tempo fosse seu aliado. De que o tempo pudesse lhe devolver a alegria de viver e isso se refletisse ainda mais na sua extraordinária produção musical.
Amy – assim como Cazuza e Tim Maia – entrou para a história pop naquele grupo de artistas que não foram exemplo de vida saudável, mas que nos deixaram um legado musical incontestável em termos de qualidade. Sua voz poderosíssima, aliada ao ritmo envolvente da Soul Music nos faz ouvir “Back to Black” do começo ao fim, sem pular sequer uma música. As letras expõem uma dor pessoal que chega a nos envolver nesse sofrimento e entender melhor as angústias e medos dessa inesquecível cantora.
Talvez uma grande desvantagem de Amy foi ter nascido na Inglaterra, um país cuja população adora um escândalo e acompanha a decadência de seus famosos com um prazer mórbido nos tablóides. Vende-se muito mais a desgraça do que a redenção. Fato. E o Brasil não se difere muito nesse aspecto.
É muito triste ouvir ou ler opiniões de pessoas que acham sua morte merecida. O pior é afirmarem que sua música não merece ser ouvida ou que seus fãs idolatram as drogas e o álcool. Não fumo, não bebo, não cheiro, mas gosto muito de Amy Winehouse. Isso é proibido? Não vivo a vida do artista. Ouço sua música. Ponto.
Se o artista é um assassino ou bate na mulher, a minha postura é outra. Agora, se ele simplesmente se autodestrói, só me resta lamentar e torcer para sua ascensão.
Acredito que se as pessoas se afundam não é por culpa do artista, mas das próprias pessoas que não tem opinião própria e acham que suas vidas devem ser uma cópia da vida de alguém do showbizz. A mídia tem grande parcela de culpa nisso, principalmente quando valoriza os tropeços dos artistas. Mas o que realmente falta às pessoas é personalidade e educação suficiente para saberem separar as coisas.
Quando Cazuza dizia que os seus heróis morreram de overdose, talvez tivesse lamentando o fato daqueles os quais ele admirava terem perecido e calado suas vozes de protesto. Ou não. O fato é que as pessoas de mente fraca simplesmente acham que sua frase reduz-se a uma apologia ao uso de drogas. Azar de quem acredita nisso...
Amy deixará saudades para todos que curtem sua voz marcante e suas letras carregadas de emoção. Sua versão para “Cupid”, de Sam Cooke, também é maravilhosa.
R.I.P. Amy!
Straight to my lover's heart for me

Ouça o álbum Back to Black na Rádio UOL clicando aqui.

Class of Claudim

Uma homenagem do meu grande amigo Anderson Lima, professor da UFMS Ponta Porã:




Quando torcer perde o sentido

Todos que me conhecem sabem que eu detesto jogar futebol – talvez um trauma das aulas obrigatórias “rola bola” de Educação Física na escola – mas gosto de assistir (sim, uma estranha equação). Tenho o meu time de coração – que EU ESCOLHI – e adoro as emoções da Copa do Mundo. Entretanto, nunca perdi meu sono por conta de um jogo de futebol, e é aí que vou concentrar a discussão deste post.
Assistindo televisão ou navegando na internet, são inúmeros os depoimentos de pessoas que se dizem “loucas” ou “vivem” pelo seu time de futebol. Concordo com elas, pois só sendo maluco mesmo para vincular sua vida a um esporte a tal ponto de sair pintando a casa com as cores do time ou inventando nomes ridículos para os seus filhos por conta de ídolos que nem sequer sabem da sua existência. Acabei de ver na tv um depoimento de um senhor dizendo que, depois de ver o seu time com estádio, poderá morrer. Como assim? Que coisa ridícula!
Esporte é entretenimento. Quando esse objetivo se perde é que surgem as notícias de violência nos estádios, violência doméstica, gente perdendo o emprego para assistir a um jogo, deixando de sair com os amigos por conta de uma final qualquer, agredindo pessoas verbal, moral ou fisicamente por conta do seu time, entre outros casos absurdos e patéticos que vemos todos os dias na mídia e, o pior, pessoalmente.
Considerar todo torcedor do Corinthians bandido, do Flamengo analfabeto-favelado e do São Paulo homossexual são apenas alguns exemplos. Em todos os casos, o objetivo é tornar a pessoa “menos digna” por conta de um time. Ao chamar alguém de bandido, atrela-se o caráter da pessoa ao seu time como se fosse algo genético. A questão do analfabetismo é tão séria na história do Brasil que a pecha de “analfabeto” passa a ser sinônimo de indignidade perante a sociedade. O homossexualismo dispensa comentários, ainda mais no contexto do futebol, um esporte “de machos para machos”. Os três casos refletem o quão preconceituosa e machista a sociedade brasileira é. Sob a desculpa da “descontração” e do jeito “brincalhão” do brasileiro, as novas gerações perpetuam os preconceitos e valores equivocados.
É claro que os veículos da mídia valorizam o futebol. Ganham dinheiro com isso. Vendem imagens que passam a ser perseguidas por garotos e garotas. Fazem muitos meninos trocarem os estudos pelo sonho do glamour de uma vida de astro de futebol – coisa mais difícil que ganhar na loteria. Muitas meninas passam a se preparar para engravidar de um desses astros e “garantir o futuro” – coisa não tão difícil quanto virar um astro. É uma deturpação tão grande que me entristece profundamente, pois considero a educação como meio de transformação. Não tiro o mérito do esporte como grande catalisador de talentos. Apenas não compreendo como o caráter excludente do binômio esporte-educação é tão difundido pelos péssimos exemplos que temos com os astros do futebol.
Afirmo mais uma vez que gosto de futebol, mas não jogo. Não sei todos os termos. Não sei a escalação completa do meu time. Entendo que quem tem que saber tudo isso são os comentaristas, que vivem disso. Conversa sobre jogo pra mim não pode passar de 5 minutos (ô coisa chaaaaaaaata). Tenho o meu time, torço, me alegro quando ganha, me chateio quando perde, mas nada se altera na minha vida em função de vitórias ou derrotas de um time de futebol. Graças a Deus...