terça-feira, 20 de setembro de 2011

O mestre dos mestres...

"Não nasci, porém, marcado para ser um professor assim. Vim me tornando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas ou à prática de outros sujeitos, na leitura persistente, crítica, de textos teóricos, não importa se com eles estava de acordo ou não. É impossível ensaiarmos estar sendo deste modo sem uma abertura crítica aos diferentes e às diferenças, com quem e com que é sempre provável aprender.
Uma das condições necessárias para que nos tornemos um intelectual que não teme a mudança é a percepção e a aceitação de que não há vida na imobilidade. De que não há progresso na estagnação. De que, se sou, na verdade, social e politicamente responsável, não posso me acomodar às estruturas injustas da sociedade. Não posso, traindo a vida, bendizê-las.
Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social de que nos tornamos parte."

Paulo Freire (1921-1997)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Quem cola gosta da escola?


Hoje resolvi falar de um tema muito recorrente nas salas de professores e rodinhas de alunos: a cola. Não adianta negar: todo mundo já colou ou passou uma colinha “inocente” pelo menos uma vez na vida escolar. Seja aquela fórmula escrita na carteira, nas pernas, nas mãos, sejam as famosas “sanfoninhas” impressas com fonte tamanho 0,5 (e o cabra mesmo assim consegue ler na hora do desespero), o fato é que este mal perdura no sistema escolar e se aperfeiçoa com o advento de novas tecnologias, como os smarphones, por exemplo.
Como professor, eu repudio qualquer tipo de cola, pois elaboro minhas provas considerando o que o aluno deverá saber e não no que ele deveria ter decorado. Como aluno, sempre me revoltei ao ter que decorar fórmulas. Confesso que em várias situações coloquei as famigeradas na carteira. Mas a aplicação das mesmas sempre esteve na “cachola”. Quando prestei vestibular, as fórmulas eram impressas na capa dos cadernos de prova. Cabia a nós candidatos saber aplicá-las nos problemas propostos. E assim fui feliz e entrei pra faculdade.
A cola se constitui num verdadeiro jogo de “gato e rato” entre professor e alunos. É uma triste realidade: o professor passeando os olhos pela sala como uma “sentinela dos infernos” e os alunos esperando o menor dos deslizes para agirem. Os que conseguem não se contentam em apenas transgredir o processo como sentem a necessidade de “cantar vitória” para os colegas depois da prova. O professor, quando “pega o malandro com a boca na botija”, praticamente arranca sua cabeça para exibi-la na sala dos professores como um troféu.
Qual a razão disso tudo?
Acredito na existência de diversos perfis de alunos que colam: o aluno que não quer estudar mesmo, o aluno que não consegue decorar mas sabe que o professor cobrará isso, o aluno que quer protestar contra o sistema avaliativo, o aluno que nem sabe o porquê de estar colando, entre outros. Mas defendo que a cultura da cola deve ser combatida não apenas com o processo punitivo da descoberta, mas também com uma profunda reflexão sobre o nosso sistema avaliativo. Será que realmente avaliamos a aprendizagem dos nossos alunos ou apenas encenamos uma peça na qual os personagens protagonizam um jogo de forças?
Considero o formato de avaliação atual extremamente injusto, somativo, classificatório, punitivo. A avaliação é usada como instrumento de controle, aquilo que garantirá o “comportamento adequado” da turma durante as aulas, quando na verdade deveria ser formativa e processual, permitindo ao aluno uma reflexão sobre sua própria aprendizagem e os caminhos percorridos na construção do seu conhecimento. Mas mesmo assim acredito que o ato de colar não se constitui no melhor instrumento de protesto.
Quem cola está enganando apenas o professor? Não. O maior enganado e trapaceado é ele mesmo, principalmente se considerarmos um contexto de formação profissional. Que tipo de profissional ele será? E o pior de tudo: que tipo de cidadão ele será?

Existem dois grandes culpados nesse processo: a escola, por querer uniformizar os alunos quanto aos seus processos cognitivos; e o aluno, por valorizar a transgressão ao invés de buscar meios de favorecer sua própria aprendizagem. A não discussão do tema leva à formação de um indivíduo que eternamente buscará burlar os processos, como no caso da compra de monografias denunciada na reportagem abaixo. Um indivíduo que prefere pagar por algo pronto ao invés de aprender, de crescer, de evoluir.


Ainda voltarei com esse tema. Ele nunca se esgotará.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

As gerações da pós-modernidade

Achei interessante esse vídeo. Ele faz um percurso histórico das gerações pós-modernas, apresentando o contexto histórico de cada época, o que permite compreender melhor algumas transformações. Apesar de levemente criticar a Igreja Católica e o homossexualismo, vale pela linha do tempo que apresenta. Fica a dica:


Pelo que lutamos?

ENEM pra quê? Pra quem? Por quê?


E mais uma vez são divulgados os resultados do ENEM. E mais uma vez a mídia "sapateia" sobre números de forma empírica e sensacionalista, destacando as escolas "campeãs", buscando um perfil de escola que seja sinônimo de "sucesso" no Exame. "Escola boa é escola que passa meu filho no vestibular", pensam os pais. Será?
Alguém se lembra o real motivo da criação do ENEM?
O Exame Nacional do Ensino Médio, como o próprio nome diz, foi criado em 1998 para "aferir a qualidade" do anos finais da Educação Básica no Brasil, ou seja, o Ensino Médio. Entretanto, com o passar dos anos, buscando maior adesão por parte dos estudantes, o governo federal passou a usar seus resultados como mecanismo de ingresso para as universidades públicas. Até aí tudo bem, se tal mudança não tivesse transformado o Exame num grande vestibular, praticamente uma Fuvest. A adesão das universidades foi rápida, pois simplificou todo o processo de exame seletivo. "Para que organizar um vestibular se podemos simplesmente usar uma nota pronta?", pensam as instituições.
Na minha opinião, o ENEM perdeu o seu sentido original e não pode ser tomado como único instrumento de avaliação da qualidade, uma vez que tais resultados são usados como ferramenta de marketing pela rede privada de ensino e o aluno faz até cursinho para a prova.
Como medir a qualidade de uma escola se o aluno faz cursinho para o ENEM?
Aí vem a mídia com manchetes do tipo "Método do primeiro colocado do Enem remete ao século 19, diz especialista da USP", "Melhor nota no Enem 2010, colégio carioca investe em 'fundamental forte e com disciplina'", "Colégio com melhor média no Enem na PB revela preparação específica", entre outras que revelam uma necessidade de apontar campeões e fracassados e fórmulas de sucesso.
Como educador, eu repudio o uso puro e simples da Estatística como instrumento de medição de qualidade. Aferir a qualidade na educação é um processo sociohistórico muito mais complexo do que os resultados numéricos de um exame que não tem 100% de adesão dos estudantes e implica em preparação prévia para os mais ricos. O ENEM passou a ser o objetivo do ensino. Isso é pura lógica do exame, impregnada na nossa educação desde os tempos dos jesuítas e reforçada por políticas que criam índices para uso em campanhas eleitorais.
Quando o aluno só pensa em vestibular, ele ignora todas as outras possibilidades da educação, deixa de lado a sua formação para a cidadania, para a ética, para cumprir seus deveres e exigir os seus direitos. Passa apenas a pensar numa prova que abre as portas para a universidade e, ao adentrá-la, descobre que precisará de todo o resto que ignorou. Estão aí os índices de evasão nas universidades para comprovar que a grande maioria dos "campeões do ENEM" nem sempre são os "campeões da faculdade". Sabe por quê? Porque A EDUCAÇÃO É FORMAÇÃO PARA A VIDA e não para uma prova com dia e horas marcados.

Dica de vídeo sobre o assunto: MTV Debate