terça-feira, 28 de agosto de 2012

O fenômeno “Isadora Faber”

Ao contrário do que muitos pensam e defendem, as ferramentas da Web 2.0 podem sim ser instrumento de ações de cidadania e as redes sociais oferecem um grande potencial de alcance para aqueles que desejam se fazer ler, ver e/ou ouvir. Um exemplo disso é a página criada no Facebook pela estudante catarinense Isadora Faber que, com apenas 13 anos de idade, está conseguindo atrair os olhares de milhares de pessoas para os problemas da Escola Maria Tomázia Coelho, localizada em Florianópolis, onde é aluna do Ensino Fundamental. 

Criada há poucos meses, a página “Diário de Classe” até o presente momento já conta com uma adesão de mais de 100.000 pessoas (esse número não para de crescer) e já conseguiu resultados positivos em termos de melhorias estruturais para a escola. De um modo direto e sem agressividade, Isadora fala sobre diversos assuntos relacionados à escola, desde problemas com ventiladores e maçanetas, até boas ações da escola como uma festa do Folclore, realizada para arrecadar fundos. Isso demonstra que sua intenção não se resume ao ato de reclamar, mas sim a apontar o que de bom e ruim ocorre no seu espaço escolar. Isso é saudável e demonstra uma forte ligação da menina com a sua escola. 

E qual foi a primeira reação da diretora e dos professores de Isadora? Persegui-la. 

Em uma de suas falas, Isadora desabafa: 

“Hoje a professora de português Queila, preparou uma aula pra me ''humilhar'' na frente dos meus colegas, a aula falava sobre política e internet, ela falava que ninguém podia falar da vida dos professores, porque nós podíamos ter feito muitas coisas erradas pra eles odiarem e etc. Eu e acho que a maioria dos meus colegas entenderam o recado ''pra mim''. Além disso quando vou até o refeitório as cozinheiras, começam a falar de mim, na minha frente e rir, eu e a Melina (minha colega) fomos reclamar com a diretora, então ela disse que eu tenho que aguentar as consequências e que a partir de agora seria assim com todos, não resolveu o problema. Confesso que fiquei muito triste ...” 

É impressionante constatarmos a falta de preparo dos professores e demais funcionários para lidar com uma situação que certamente é um exemplo de cidadania. Eu tenho a opinião de que, enquanto Isadora agir com coerência, tendo bom senso de abordar aquilo que realmente irá contribuir para o desenvolvimento da sua escola, buscando sempre um diálogo inicial com os setores responsáveis e sem se deixar influenciar ou manipular por pessoas com intenções meramente políticas, suas ações em nada agridem a imagem da escola. Mesmo se ela cometer deslizes, o papel do professor é atuar junto aos seus alunos, numa parceria, propondo reflexões para que o mesmo analise seus próprios atos de maneira construtiva, aprendendo assim a diferenciar a denúncia da simples depreciação. 

Garantir a liberdade de expressão é permitir que o indivíduo exponha suas ideias e argumentos. Isso não implica numa aceitação direta daquilo que se diz, mas certamente é o pontapé inicial para que ocorram discussões e argumentações que validem ou não aquilo que se está expressando. Quando eu não concordo com as ideias de um aluno, eu procuro apresentar o meu ponto de vista e defendo-o com argumentos que julgo coerentes. Ao mesmo tempo, procuro questionar este aluno para que ele também faça esse exercício de defesa de ideias. É assim que conseguimos realizar uma discussão profícua e racional. 

Nas dezenas de entrevistas que já concedeu a diversos veículos de comunicação, Isadora diz que deseja ser jornalista: mal ela sabe que já é uma. Aproveitemos enquanto sua veia jornalística se manifesta de modo puro e afastado dos “tentáculos político-ideológicos” da mídia tradicional e contemplemos todas as boas ações que ela poderá desencadear a partir do seu sincero desejo de construir conhecimento num espaço escolar bem estruturado e organizado.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Li e recomendo

“Eu, Cláudio” (I, Claudius) e “Cláudio, o Deus” (Claudius, the God) – Robert Graves 


Sabe aqueles momentos em que você percorre uma livraria sem nenhuma pretensão objetiva e acaba por descobrir e se apaixonar por uma pérola literária? Pois bem, foi assim comigo e as obras “Eu, Cláudio” (1934) e “Cláudio, o Deus” (1935), ambas de autoria de Robert Graves e que narram, em primeira pessoa, a história do último imperador romano da dinastia Júlio-Claudiana, Tibério Cláudio César Augusto Germânico, que nasceu no ano 10 a. C., tornou-se imperador em 41 d. C. após o assassinato de seu sobrinho Calígula e morreu em 54 d. C., passando o poder ao seu filho adotivo Nero

Eu particularmente adoro história antiga e, ao adotar o recurso da 1ª pessoa, narrando a história sob a perspectiva de Cláudio numa espécie de “memórias póstumas”, Robert Graves consegue com maestria recriar todo o universo deste importante período da história humana, as conquistas sangrentas impostas pelos romanos, as intrigas palacianas, a vida sexual (principalmente no reinado de Calígula e no período em que Cláudio foi casado com a famosa e depravada Messalina), o surgimento do cristianismo, o direito romano, o funcionamento do senado diante do poder absoluto do imperador, e assim nos leva a refletir sobre a sede de poder que parece estar entranhada no ser humano desde os primórdios. Outro fato curioso é que Cláudio só chegou ao poder porque nunca o almejou e, por ser considerado um idiota e incapaz, conseguiu sobreviver aos constantes assassinatos que ocorriam na família imperial. 

Acabei descobrindo que a BBC produziu em 1976 uma minissérie de 13 capítulos baseada nestes livros. Ainda não consegui baixá-la, mas estou louco para assisti-la. Sem falar que a HBO anunciou que produzirá uma nova versão. Resultado: pirei geral! Hehehehe... 

Seguem abaixo as sinopses dos dois livros (Fonte: Livraria da Travessa): 

Eu, Cláudio (1934): “Falando dos gloriosos dias de Augusto, das crueldades de Tibério, ou da divinizada insanidade de Calígula, Cláudio formou uma história capaz de nos fazer perder o fôlego, e que é repleta de assassinatos, cobiça e loucura. A sua voz, às vezes perplexa, às vezes pesarosa, mas sempre lúcida, fala-nos, ao longo dos séculos, em seus dois grandes e clássicos romances históricos, esmiuçando todas as oscilações do seu destino, seu desastroso caso de amor com a depravada Messalina, e o seu surpreendentemente bem-sucedido reinado. 
‘CLAU-CLAU-CLÁUDIO, o gago, era conhecido como um bufão e um tolo digno de piedade, mas seu propósito foi ficar observando dos bastidores e registrando todas as peculiaridades, grotescas, violentas, lascivas, dos membros da Casa Imperial, na sua incontrolável disputa pelo poder. Então, um dia – ele próprio foi feito Imperador’, narra o escritor.” 

Cláudio, o Deus (1935): “Tibério Cláudio César, um aleijado, gago e um presumível tolo, descendente de Augusto, vai se tornar Imperador dos romanos, e surpreendentemente realizará conquistas marcantes. Este é o tema central deste segundo volume, que nos conta as intrigas palacianas, as conspirações de um senado quase sempre corrupto e subserviente, os acordos e os amores lascivos dos personagens, que ansiavam pela permanência no poder, pontuados pelos atos heroicos de comandantes e soldados profissionalmente treinados para a conquista. É um verdadeiro acerto de contas que Cláudio promove com sua época e, ao deixá-lo registrado para a posteridade, permitiu que escritores como Robert Graves desvendassem os acontecimentos que marcaram o destino da dinastia dos Cláudios. Dinastia criada por personagens marcantes como Otávio Augusto e sua ambiciosa mulher Lívia; Tibério, que deu vitórias e derrotas para Roma e que morreu para o proveito de seu filho Calígula, por sua vez o responsável por instaurar um regime de loucura e terror enquanto esteve vivo.”

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Professor merece respeito!


É interessante observarmos o quanto são incoerentes os discursos sobre o valor da Educação. É muito bonito dizer que “o mais importante é a Educação”, que “sem Educação não há desenvolvimento”, que “o magistério é o mais nobre dos ofícios”, dentre tantos outros que, na verdade, ficam apenas nas palavras e estas, como costumam dizer os árabes, acabam por ser “jogadas ao vento”. E não adianta dizer que essa é uma característica exclusiva dos políticos, cujos discursos já conhecemos de cor. Isso também está presente em toda a sociedade.
Os mesmos que dizem que ser professor é nobre são aqueles que não desejam que seus filhos ingressem num curso de Pedagogia ou numa licenciatura. Ou seja: é uma profissão nobre, porém exercida por coitados. Os mesmos que dizem que a Educação é prioridade são os primeiros a atirar pedras nos professores quando estes usam do seu direito legal de fazer greve para lutar por melhores salários e condições de trabalho. Quem realmente luta pelo ensino público de qualidade? Quantos pais comparecem às reuniões escolares? Quantos empresários investem em ações educativas? Quem realmente olha por nós?
A cruel regra que a sociedade impõe a nós professores é a de que devemos ser “nobres”, altamente competentes, garantirmos a qualidade do ensino e suportarmos todas as adversidades em nome do “amor ao ofício”. Sim, eu amo o que faço, não me vejo fazendo outra coisa, e por isso INVISTO na minha formação, sempre buscando o novo, me informando, lendo, assistindo, discutindo, comprando livros, assinando revistas, indo a congressos, fazendo pesquisa e, por essa razão, TENHO O DIREITO DE SER BEM REMUNERADO E O DEVER DE EXIGIR ISSO!
Se um auditor da Receita Federal, por exemplo, recebe mais de R$ 13.000,00 para exercer uma atividade repetitiva e burocrática que requer apenas um rápido treinamento, por que um professor doutor, que passou mais de 10 anos estudando – se considerarmos desde o seu ingresso no ensino superior – não pode ganhar o mesmo? Qual o critério de importância utilizado para se estipular os altos salários públicos? Por que os professores da Educação Básica devem sobreviver com péssimas condições e salários ridículos? Na minha opinião, um professor alfabetizador deveria ganhar tanto quanto um professor universitário. Por isso apoio todo tipo de movimento que lute neste sentido.
Quando nós professores entramos em greve, são necessários mais de 50, 60, 70 dias para que a sociedade comece a se preocupar. E as primeiras atitudes manifestadas são as de questionar o movimento, chamando-nos de mercenários. Poucos se viram para o governo em busca de respostas. Alguém já viu situação semelhante numa greve de bancários, de caminhoneiros, de policiais, de médicos? Não... E a razão disso? DESCASO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA.