sábado, 9 de abril de 2011

O massacre que a todos feriu


O Brasil chora pelas crianças cujas vidas foram interrompidas tão brutalmente na última quinta-feira no Rio de Janeiro, no episódio que tristemente já entrou para a história como o Massacre de Realengo. Nós, que nos orgulhávamos de nunca termos vivenciado um massacre em uma escola - afinal, isso era coisa de "americano doido" - agora percebemos o real significado do termo "globalizado". Não há o que não possa acontecer em qualquer país deste planeta, cujas vidas de todos os seus habitantes se vêem conectadas numa grande teia de acontecimentos. É o verdadeiro efeito borboleta.
Todos os dias cerca de 94 pessoas morrem vítimas de armas de fogo apenas no Brasil. Mas esse massacre envolveu adolescentes e isso nos dói muito, nos deixa vulneráveis, nos chama para a realidade de maneira muito mais cruel, nos joga na cara que não estamos conseguindo proteger nossas crianças, nossos meninos e meninas, nossas esperanças de um mundo melhor.
A mídia explora de todas as formas esse massacre e nos faz ter a certeza de que realmente vivemos na sociedade do espetáculo. Entretanto, não se trata de uma novela cujo final feliz sempre acontece. É o mundo real, é a vida, é o Brasil, é uma escola, são crianças que nunca chegarão a ser adultos. A todo momento alguém noticia mais alguma característica do atirador, mas poucos se perguntam a respeito do meio que o gerou, do percurso social e histórico que o levou até o momento em que a sanidade lhe abandonou. Eternamente nos questionaremos: fomos nós que o criamos? Quantos meninos neste momento passam pelo que ele passou e podem vir a se espelhar nele num futuro sombrio? Qual a solução? Aquartelar nossos meninos e meninas nas escolas, atrás de grades e cadeados e detectores de metais? E quando o sino bater, quem os protegerá?
Numa sociedade que lota cinemas para ver filmes que valorizam a violência gratuita, vendem carros "velozes e furiosos", glamourizam a prostituição, fazem meninas desejarem serem "mordidas" pelo grande amor vampiro, mostram escolas americanas e toda a deturpação das relações dentro de seus muros (o importante é ser popular, o atleta bonitão, a gatinha lider de torcida ou, no mínimo, saber cantar e dançar) fica fácil entender porque estamos tão vulneráveis. É triste a constatação de que não temos controle sobre nada e, o pior, nem sabemos para qual direção olharmos em busca de ajuda.
Atualmente eu atuo no Ensino Médio. Meus alunos têm praticamente as mesmas idades dos meninos e meninas mortos. Não tenho filhos mas o medo que senti na quinta-feira foi o de um pai que vê os seus filhos num mundo cruel e imprevisível. Um mundo criado e mantido por nós mesmos.
Oremos...


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