terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não aos rótulos

Eu odeio rótulos. Sem rótulos eu sou livre. Livre para amar, livre para ouvir, vestir, ler e assistir o que me agradar, sem medo do que os outros vão dizer, do que o meu "grupo" achará, sem espaços delimitados, sem tempos determinados. Por um tempo não pensei assim, e o meu corpo sofre até hoje os efeitos dessa repressão. E para que eu possa viver do jeito que eu quero, busco e mantenho minha independência, meu domínio sobre mim. Na terapia aprendi que não devo esperar que todos me aceitem, porém devo exigir que todos me respeitem. Somos todos diferentes e essa diferença é linda e deve ser respeitada. E assim o faço. E assim eu vivo. Livre. No dia em que alguém pagar todas as minhas contas, me alimentar e limpar a minha bunda, permitirei que me rotulem, pois não mais terei domínio sobre mim. Mas até lá, vivo do jeito que devo viver.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O “professor doutor” e o “doutor que dá aulas”

Observando o comportamento de alguns "colegas" no ambiente de trabalho e me recordando dos tempos da faculdade, me peguei pensando sobre as diferenças de discurso e atitude entre o professor doutor e o que eu costumo denominar como "o doutor que dá aulas". Eu fico me perguntando o por quê de algumas pessoas terem ingressado na Educação, uma vez que a ignoram totalmente em suas práticas. Cada vez que eu mergulho na construção da minha tese de doutorado, eu sei que a mesma não será o fim da minha trajetória, mas apenas o começo de uma jornada de muitas pesquisas. Ao mesmo tempo, percebo pessoas que simplesmente param no tempo após obterem o título e fazem dele apenas instrumento de status.
Por essa razão, rascunhei algumas diferenças que considero entre o "professor doutor" e o "doutor que dá aulas" e me empenho fortemente a futuramente fazer parte da primeira categoria.
Então vamos lá:


  • O professor doutor faz da sua prática docente fonte de inspiração para o estabelecimento de novas perguntas e consequente construção de novos conhecimentos.
  • O doutor que dá aulas considera as aulas um entrave para suas pesquisas.
  • O professor doutor trabalha com e para os seus estudantes, inserindo-os ao máximo na vivência inicial da atividade científica.
  • O doutor que dá aulas considera os alunos incapazes de fazer jus ao seu nível acadêmico.
  • O professor doutor cresce junto com seus estudantes.
  • O doutor que dá aulas tem medo de “sujar o seu nome” orientando os estudantes e só o faz quando é obrigado.
  • O professor doutor sempre diz “meus orientandos e eu”.
  • O doutor que dá aulas diz “eu e meus orientandos”.
  • O professor doutor sabe que a sua tese foi apenas a primeira de muitas pesquisas.
  • O doutor que dá aulas faz da sua tese um objeto a ser compulsoriamente adorado pelos seus alunos e só sabe falar dela (quando sabe).
  • O professor doutor valoriza o seu título pelas possibilidades de atuação docente e científica que o mesmo lhe proporciona.
  • O doutor que dá aulas só sabe gritar aos quatro cantos que é doutor (como se alguém estivesse interessado em saber).
  • O professor doutor sabe que, antes de tudo, ele é professor e importante ator da Educação.
  • O doutor que dá aulas menospreza as discussões da Educação e se considera superior a ela.
  • O professor doutor trabalha com os conteúdos e sabe que os mesmos são inacabados.
  • O doutor que dá aulas é escravo dos conteúdos “embalados e etiquetados”.
  • O professor doutor quer ensinar.
  • O doutor que dá aulas quer cargos que o afaste do ensino e lhe dê status.
  • O professor doutor ama o que faz.
  • O doutor que dá aulas só sabe reclamar do que faz.
  • O professor doutor luta por melhorias, mas busca alternativas com o que tem em mãos.
  • O doutor que dá aulas apenas enxerga as limitações e as usa como desculpa para não fazer o mínimo necessário.
  • O professor doutor enxerga os colegas como iguais.
  • O doutor que dá aulas olha para os demais como “seres inferiores”.
  • O professor doutor se alegra ao ver colegas ingressando na carreira acadêmica e procura sempre motivá-los e aconselhá-los.
  • O doutor que dá aulas considera todos a sua volta “concorrentes em potencial” e faz do boicote e do desprezo a sua “arma contra os inimigos”.
  • O professor doutor trabalha para a Educação.
  • O doutor que dá aulas está na Educação por não ter encontrado “coisa melhor”.
  • O professor doutor sempre se apresenta como professor.
  • O doutor que dá aulas só se considera doutor.
  • O professor doutor é um doutor de verdade.
  • O doutor que dá aulas é apenas um "pobre diabo" com um diploma na parede.
Leitura complementar: Sobre a vaidade no campo acadêmico

domingo, 19 de maio de 2013

E o jacaré me fez cientista


Hoje me peguei pensando na minha incipiente trajetória de pesquisador e resolvi relatar brevemente como começou a minha paixão pela pesquisa. Posso dizer que esse sentimento começou há 19 anos, em 1994, quando iniciei meu Ensino Médio no extinto CEFAM. Além de todo o novo mundo que se abria para nós estudantes do Magistério, com disciplinas até então para nós desconhecidas – como Didática, Psicologia, Sociologia da Educação, Estrutura e Funcionamento do Ensino, dentre outras – um desafio em particular nos chamou a atenção: a feira de ciências anualmente organizada pela escola e coordenada pela professora Wanda Faleiros, responsável pelas aulas de Biologia no CEFAM.
A professora Wanda – hoje docente da UEMS – é uma daquelas pessoas que nos passam um entusiasmo incrível para o desenvolvimento das nossas tarefas. Sempre elegantíssima e igualmente simpática, tinha uma visão de ensino focada em projetos e fazia da feira de ciências um diferencial para a construção do conhecimento em Biologia. Assim, diferentemente do então tradicional formato de evento onde os alunos “montavam alguma coisa” e a apresentavam, nós deveríamos propor e desenvolver um projeto de pesquisa, relatando seus resultados.
Dessa maneira, o meu grupo resolveu desenvolver uma pesquisa sobre o jacaré do Pantanal, após várias discussões e dicas da própria professora. Começava aí uma sucessão de acontecimentos que por pouco não me levaram para a Biologia. Tivemos apoio de pesquisadores da Embrapa Pantanal, que nos forneceram informações e nos emprestaram material para a exposição. Vendo o nosso empenho, a professora nos inscreveu numa seletiva que levaria três trabalhos de Corumbá para serem apresentados na Feira Estadual de Ciências, em Campo Grande. Ficamos em primeiro lugar e, com muito esforço da professora, fomos para a capital e também conquistamos a estadual! Foram dias incríveis para nós, onde pudemos, com apenas 15 anos, vivenciar experiências que ficariam para o resto da vida. Infelizmente não tivemos apoio dos governantes para nos apresentarmos em Buenos Aires, na Argentina, num evento para o qual fomos credenciados por termos sido destaque na feira estadual. Penso o quanto isso teria sido ainda mais enriquecedor nas nossas vidas. Mas, enfim...


No ano seguinte novamente participamos da feira estadual, além de um simpósio de Educação Ambiental, ambos em Campo Grande. Foram tantos frutos colhidos com tão poucos recursos e certamente teríamos ido muito mais longe se tivéssemos a estrutura adequada. Não cursei Biologia, parti para a Análise de Sistemas, mas o sentimento investigador já estava entranhado em mim. Ser pesquisador é ter constante postura questionadora e investigativa. E isso será eterno em mim.
Hoje, como professor de um Instituto Federal, eu me vejo no lugar da professora Wanda, incentivando meus alunos a desenvolverem projetos de iniciação científica e me alegrando em ver suas realizações. Nestes quase 3 anos e meio em que já atuei no IFMS, tive o prazer de ver meus pupilos submetendo e apresentando trabalhos em diversos eventos locais e nacionais, além de testemunhar colegas professores brilhando com seus orientandos em diversos outros eventos. É indescritível a sensação de ver esses meninos e meninas com a empolgação que eu também tive na idade deles e isso me faz lutar sempre na busca de recursos para levá-los aos eventos.
Enfim, se hoje sou mestre e um doutorando em educação, isso tudo se deve a um bichinho lindo (sim, eu acho jacaré lindo), esverdeado, rabudo, dentuço e versátil: o jacaré. E devo muito mais à professora Wanda, que plantou e certamente ainda planta a "sementinha científica" nos seus alunos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Quando "Deus" não me deixou ir ao cinema

Hoje, sapeando pelo youtube num daqueles momentos de nostalgia que nos leva a buscar clipes antigos, comecei a assistir ao vídeo de "I don´t wanna miss a thing", da banda Aerosmith, e isso me fez recordar um fato curioso que me ocorreu no meu primeiro ano de exercício da docência.
A música em questão é tema do filme Armageddon, que estreou em 1998, ano em que eu apenas "engatinhava" profissionalmente, vivenciando minhas primeiras experiências no meu primeiro emprego: a escola particular "Tia Olívia", conhecida em toda a cidade por possuir uma metodologia diferenciada de ensino e que, na ocasião, flertava com o Construtivismo (assim como toda escola que quisesse se julgar "moderninha" ou "antenada" no final dos anos 90).
Mas qual a relação entre o filme e minhas experiências? E qual o sentido do título desse post?
Pois bem, no segundo semestre do referido ano, fiquei responsável pelas disciplinas de Português e Matemática na 3ª e 4ª séries e elaborei um projeto sobre cinema, uma vez que há pouco tempo o mesmo havia comemorado seu centenário.
Assim, foram vários trabalhos com textos, notícias de jornal e uma sessão pipoca com "Tempos Modernos" para que a garotada vivenciasse o início da chamada "Sétima Arte". Como culminância do projeto, havia a previsão de irmos em excursão ao cinema para assistirmos a um filme bem moderno, com muitos efeitos, e compararmos a evolução dos mesmos. A ideia também era que o filme fosse estrangeiro para depois debatermos sobre o uso de legendas e a dublagem.
Tudo certo, valores combinados com os pais, data marcada, filme escolhido: Armageddon. Era o que estava bombando e a gurizada tava doidinha pra ver. Mas....(tem sempre um mas)...
A coordenadora pedagógica (também esposa do dono da escola) era uma daquelas pessoas que realmente "intervinha" nas aulas dos professores. Infelizmente, ultrapassava os limites do bom senso e acabava por limitar a nossa autonomia, ao ponto de nos mandar jogar fora atividades já elaboradas e reproduzidas. Achava-se profundamente conhecedora do Construtivismo, mas não exercia um dos seus mais valiosos princípios: o da liberdade de expressão. 
Avisada do filme, resolveu assistí-lo antes de autorizar a excursão, o que não foi permitido, pois ela, evangélica fervorosa, entendeu que o filme poderia induzir as crianças a uma visão de que é possível reverter os "desígnios divinos".
Vou explicar melhor: no filme, um grupo de astronautas é enviado ao espaço para deter um meteoro gigante em rota de colisão com a Terra, o que se efetiva ao término do filme.
"As crianças vão achar que podem deter Deus", foi sua justificativa para não autorizar a nossa ida ao cinema. Ou seja, numa escola construtivista, ela decidiu qual seria a interpretação do filme, como se os estudantes não pudessem debater o assunto e chegar a inúmeras conclusões.
Eu era um garoto de apenas 19 anos e, sem o respaldo teórico e experiencial que hoje, 15 anos depois, possuo, nada pude fazer. E essa não foi a primeira vez que ela esfregou a religião na minha cara. Na escola, eu era o único professor católico, e acho que só fui contratado porque ela esqueceu de me questionar sobre esse "detalhe" na entrevista de emprego. Apesar de todas as minhas colegas serem evangélicas, não havia conflito algum. Pelo contrário, a convivência era ótima, com exceção das colocações da coordenadora, que sempre procurava menosprezar a doutrina católica em qualquer chance que tivesse. Deus sabe quantas vezes me contive de entrar num embate quanto a este assunto. Mas, imagine-se saindo do primeiro emprego sem uma carta de recomendação. É motivo suficiente para calar a boca de qualquer iniciante.
Enquanto presenciamos a religião se embrenhando nas questões legais e políticas do Brasil, percebo o quão prejudicial foi tal atitude ao meu projeto. Uma atitude arbitrária e totalmente desprovida de um arcabouço teórico válido. Me recordo claramente das carinhas de decepção dos meus pequenos, mas decidi não ir ver outro filme, mesmo porque não havia nenhum outro em cartaz que pudesse permitir as discussões sobre os efeitos especiais.
Enfim, como gostaria de voltar no tempo levando toda a experiência que hoje possuo, para falar meia dúzia de verdades à minha "amada" coordenadora. Ah, se eu pudesse.
"Don't wanna close my eyes."

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Leituras de 2012

Em 2012 não consegui ler tantos livros como em 2011 por conta do grande volume de trabalho e atividades relacionadas ao meu doutorado. Mesmo assim, procurei manter a promessa de sempre ter uma leitura em andamento. Segue a lista:

Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
Fortaleza Digital - Dan Brown
Cláudio, o Deus - Robert Graves
As Crônicas de Gelo e Fogo – Volume 4 – O Festim dos Corvos - R. R, Martin
As Crônicas de Gelo e Fogo – Volume 5 – A Dança dos Dragões - R. R. Martin

Recomendo as leituras feitas a todos os amigos.