segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012: um ano marcante

No ano de 2012 eu vi o melhor e o pior do ser humano. Presenciei de perto o poder destruidor da manipulação mesquinha, testemunhei a pobreza de espírito, senti os efeitos da falsidade, conheci os instrumentos usados pela inveja e confirmei que a mentira é a arma dos fracos e incompetentes e somente os incapazes de resolver seus próprios problemas manipulam os outros para que o façam. Paulo Freire já dizia que o sujeito que "faz a cabeça do outro nega o outro para produzi-lo à sua maneira” e isso para mim ficou evidente no ano que passou. 

Ao mesmo tempo, em 2012 conheci o poder transformador daqueles que realmente se preocupam com os outros, que atuam com ética, que querem uma Educação de qualidade independente de interesses pessoais e políticos, que trabalham unicamente para que seus estudantes vivam boas experiências e construam uma base sólida para a vida adulta. Profissionais que conhecem as dificuldades sim, mas não fazem destas apenas desculpas para a inércia e buscam alternativas para que “a roda não pare”, sem deixar, é claro, de lutar por melhorias. Em 2012 muitas relações profissionais se quebraram para sempre, porque o perdão não está entre as minhas qualidades. Mas cheguei à conclusão de que estou no caminho certo rumo ao que eu realmente acredito: a verdadeira educação, que se faz em sala de aula, com ética, respeito mútuo, postura rígida nos momentos necessários, porém sem deixar de lado a amizade constante e verdadeira com aqueles pelos quais trabalhamos e dos quais esperamos um futuro brilhante. Não temo 2013 justamente por ter me fortalecido em 2012. E que seja sempre assim...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Seja homem!


Seja “homem”, esconda seus sentimentos, não demonstre fraqueza, não exponha nada que denote sensibilidade. Afinal, “homem de verdade” é bruto, grosseiro, insensível, mal-educado, escatológico, selvagem, sexual. Não seja o homem que você é. Seja o “homem” que a sociedade lhe impõe ser. Caso contrário, dedos lhe serão apontados, risos lhe serão dirigidos, ofensas lhe serão proferidas. Obedeça ao estereótipo, ou saia deste planeta. Não chore, não cante, não componha, não recite, não dance, não peça ajuda, não veja novelas, não use rosa, não cuide da aparência (mas tenha músculos!), adore carros, futebol e MMA, idolatre o álcool, tenha um animal feroz, fale grosso, use as mulheres e odeie todos que não sigam estas regras. Seja “homem”, pô!

E é assim que se perpetuam as relações sociais milenarmente constituídas. Qualquer tentativa de mudança jamais será bem-vinda. Qualquer regra quebrada inviabiliza o seu direito de ser chamado de "homem".  

Como dizia Cazuza: "Eu vejo o futuro repetir o passado".

Ah! O mundo dos “homens” é mesmo admirável, não é?

Não.

domingo, 9 de setembro de 2012

A Educação pelos Jesuítas

Sinopse: A Univesp TV foi a Portugal investigar o caminho feito pelos jesuítas que vieram para as novas terras da coroa portuguesa logo no início da colonização. Com eles começou a educação no Brasil. Mas foi mesmo isso que eles vieram fazer aqui? Como eram os famosos colégios que os jesuítas fundaram por toda colônia? Os índios frequentavam esses colégios?



terça-feira, 28 de agosto de 2012

O fenômeno “Isadora Faber”

Ao contrário do que muitos pensam e defendem, as ferramentas da Web 2.0 podem sim ser instrumento de ações de cidadania e as redes sociais oferecem um grande potencial de alcance para aqueles que desejam se fazer ler, ver e/ou ouvir. Um exemplo disso é a página criada no Facebook pela estudante catarinense Isadora Faber que, com apenas 13 anos de idade, está conseguindo atrair os olhares de milhares de pessoas para os problemas da Escola Maria Tomázia Coelho, localizada em Florianópolis, onde é aluna do Ensino Fundamental. 

Criada há poucos meses, a página “Diário de Classe” até o presente momento já conta com uma adesão de mais de 100.000 pessoas (esse número não para de crescer) e já conseguiu resultados positivos em termos de melhorias estruturais para a escola. De um modo direto e sem agressividade, Isadora fala sobre diversos assuntos relacionados à escola, desde problemas com ventiladores e maçanetas, até boas ações da escola como uma festa do Folclore, realizada para arrecadar fundos. Isso demonstra que sua intenção não se resume ao ato de reclamar, mas sim a apontar o que de bom e ruim ocorre no seu espaço escolar. Isso é saudável e demonstra uma forte ligação da menina com a sua escola. 

E qual foi a primeira reação da diretora e dos professores de Isadora? Persegui-la. 

Em uma de suas falas, Isadora desabafa: 

“Hoje a professora de português Queila, preparou uma aula pra me ''humilhar'' na frente dos meus colegas, a aula falava sobre política e internet, ela falava que ninguém podia falar da vida dos professores, porque nós podíamos ter feito muitas coisas erradas pra eles odiarem e etc. Eu e acho que a maioria dos meus colegas entenderam o recado ''pra mim''. Além disso quando vou até o refeitório as cozinheiras, começam a falar de mim, na minha frente e rir, eu e a Melina (minha colega) fomos reclamar com a diretora, então ela disse que eu tenho que aguentar as consequências e que a partir de agora seria assim com todos, não resolveu o problema. Confesso que fiquei muito triste ...” 

É impressionante constatarmos a falta de preparo dos professores e demais funcionários para lidar com uma situação que certamente é um exemplo de cidadania. Eu tenho a opinião de que, enquanto Isadora agir com coerência, tendo bom senso de abordar aquilo que realmente irá contribuir para o desenvolvimento da sua escola, buscando sempre um diálogo inicial com os setores responsáveis e sem se deixar influenciar ou manipular por pessoas com intenções meramente políticas, suas ações em nada agridem a imagem da escola. Mesmo se ela cometer deslizes, o papel do professor é atuar junto aos seus alunos, numa parceria, propondo reflexões para que o mesmo analise seus próprios atos de maneira construtiva, aprendendo assim a diferenciar a denúncia da simples depreciação. 

Garantir a liberdade de expressão é permitir que o indivíduo exponha suas ideias e argumentos. Isso não implica numa aceitação direta daquilo que se diz, mas certamente é o pontapé inicial para que ocorram discussões e argumentações que validem ou não aquilo que se está expressando. Quando eu não concordo com as ideias de um aluno, eu procuro apresentar o meu ponto de vista e defendo-o com argumentos que julgo coerentes. Ao mesmo tempo, procuro questionar este aluno para que ele também faça esse exercício de defesa de ideias. É assim que conseguimos realizar uma discussão profícua e racional. 

Nas dezenas de entrevistas que já concedeu a diversos veículos de comunicação, Isadora diz que deseja ser jornalista: mal ela sabe que já é uma. Aproveitemos enquanto sua veia jornalística se manifesta de modo puro e afastado dos “tentáculos político-ideológicos” da mídia tradicional e contemplemos todas as boas ações que ela poderá desencadear a partir do seu sincero desejo de construir conhecimento num espaço escolar bem estruturado e organizado.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Li e recomendo

“Eu, Cláudio” (I, Claudius) e “Cláudio, o Deus” (Claudius, the God) – Robert Graves 


Sabe aqueles momentos em que você percorre uma livraria sem nenhuma pretensão objetiva e acaba por descobrir e se apaixonar por uma pérola literária? Pois bem, foi assim comigo e as obras “Eu, Cláudio” (1934) e “Cláudio, o Deus” (1935), ambas de autoria de Robert Graves e que narram, em primeira pessoa, a história do último imperador romano da dinastia Júlio-Claudiana, Tibério Cláudio César Augusto Germânico, que nasceu no ano 10 a. C., tornou-se imperador em 41 d. C. após o assassinato de seu sobrinho Calígula e morreu em 54 d. C., passando o poder ao seu filho adotivo Nero

Eu particularmente adoro história antiga e, ao adotar o recurso da 1ª pessoa, narrando a história sob a perspectiva de Cláudio numa espécie de “memórias póstumas”, Robert Graves consegue com maestria recriar todo o universo deste importante período da história humana, as conquistas sangrentas impostas pelos romanos, as intrigas palacianas, a vida sexual (principalmente no reinado de Calígula e no período em que Cláudio foi casado com a famosa e depravada Messalina), o surgimento do cristianismo, o direito romano, o funcionamento do senado diante do poder absoluto do imperador, e assim nos leva a refletir sobre a sede de poder que parece estar entranhada no ser humano desde os primórdios. Outro fato curioso é que Cláudio só chegou ao poder porque nunca o almejou e, por ser considerado um idiota e incapaz, conseguiu sobreviver aos constantes assassinatos que ocorriam na família imperial. 

Acabei descobrindo que a BBC produziu em 1976 uma minissérie de 13 capítulos baseada nestes livros. Ainda não consegui baixá-la, mas estou louco para assisti-la. Sem falar que a HBO anunciou que produzirá uma nova versão. Resultado: pirei geral! Hehehehe... 

Seguem abaixo as sinopses dos dois livros (Fonte: Livraria da Travessa): 

Eu, Cláudio (1934): “Falando dos gloriosos dias de Augusto, das crueldades de Tibério, ou da divinizada insanidade de Calígula, Cláudio formou uma história capaz de nos fazer perder o fôlego, e que é repleta de assassinatos, cobiça e loucura. A sua voz, às vezes perplexa, às vezes pesarosa, mas sempre lúcida, fala-nos, ao longo dos séculos, em seus dois grandes e clássicos romances históricos, esmiuçando todas as oscilações do seu destino, seu desastroso caso de amor com a depravada Messalina, e o seu surpreendentemente bem-sucedido reinado. 
‘CLAU-CLAU-CLÁUDIO, o gago, era conhecido como um bufão e um tolo digno de piedade, mas seu propósito foi ficar observando dos bastidores e registrando todas as peculiaridades, grotescas, violentas, lascivas, dos membros da Casa Imperial, na sua incontrolável disputa pelo poder. Então, um dia – ele próprio foi feito Imperador’, narra o escritor.” 

Cláudio, o Deus (1935): “Tibério Cláudio César, um aleijado, gago e um presumível tolo, descendente de Augusto, vai se tornar Imperador dos romanos, e surpreendentemente realizará conquistas marcantes. Este é o tema central deste segundo volume, que nos conta as intrigas palacianas, as conspirações de um senado quase sempre corrupto e subserviente, os acordos e os amores lascivos dos personagens, que ansiavam pela permanência no poder, pontuados pelos atos heroicos de comandantes e soldados profissionalmente treinados para a conquista. É um verdadeiro acerto de contas que Cláudio promove com sua época e, ao deixá-lo registrado para a posteridade, permitiu que escritores como Robert Graves desvendassem os acontecimentos que marcaram o destino da dinastia dos Cláudios. Dinastia criada por personagens marcantes como Otávio Augusto e sua ambiciosa mulher Lívia; Tibério, que deu vitórias e derrotas para Roma e que morreu para o proveito de seu filho Calígula, por sua vez o responsável por instaurar um regime de loucura e terror enquanto esteve vivo.”

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Professor merece respeito!


É interessante observarmos o quanto são incoerentes os discursos sobre o valor da Educação. É muito bonito dizer que “o mais importante é a Educação”, que “sem Educação não há desenvolvimento”, que “o magistério é o mais nobre dos ofícios”, dentre tantos outros que, na verdade, ficam apenas nas palavras e estas, como costumam dizer os árabes, acabam por ser “jogadas ao vento”. E não adianta dizer que essa é uma característica exclusiva dos políticos, cujos discursos já conhecemos de cor. Isso também está presente em toda a sociedade.
Os mesmos que dizem que ser professor é nobre são aqueles que não desejam que seus filhos ingressem num curso de Pedagogia ou numa licenciatura. Ou seja: é uma profissão nobre, porém exercida por coitados. Os mesmos que dizem que a Educação é prioridade são os primeiros a atirar pedras nos professores quando estes usam do seu direito legal de fazer greve para lutar por melhores salários e condições de trabalho. Quem realmente luta pelo ensino público de qualidade? Quantos pais comparecem às reuniões escolares? Quantos empresários investem em ações educativas? Quem realmente olha por nós?
A cruel regra que a sociedade impõe a nós professores é a de que devemos ser “nobres”, altamente competentes, garantirmos a qualidade do ensino e suportarmos todas as adversidades em nome do “amor ao ofício”. Sim, eu amo o que faço, não me vejo fazendo outra coisa, e por isso INVISTO na minha formação, sempre buscando o novo, me informando, lendo, assistindo, discutindo, comprando livros, assinando revistas, indo a congressos, fazendo pesquisa e, por essa razão, TENHO O DIREITO DE SER BEM REMUNERADO E O DEVER DE EXIGIR ISSO!
Se um auditor da Receita Federal, por exemplo, recebe mais de R$ 13.000,00 para exercer uma atividade repetitiva e burocrática que requer apenas um rápido treinamento, por que um professor doutor, que passou mais de 10 anos estudando – se considerarmos desde o seu ingresso no ensino superior – não pode ganhar o mesmo? Qual o critério de importância utilizado para se estipular os altos salários públicos? Por que os professores da Educação Básica devem sobreviver com péssimas condições e salários ridículos? Na minha opinião, um professor alfabetizador deveria ganhar tanto quanto um professor universitário. Por isso apoio todo tipo de movimento que lute neste sentido.
Quando nós professores entramos em greve, são necessários mais de 50, 60, 70 dias para que a sociedade comece a se preocupar. E as primeiras atitudes manifestadas são as de questionar o movimento, chamando-nos de mercenários. Poucos se viram para o governo em busca de respostas. Alguém já viu situação semelhante numa greve de bancários, de caminhoneiros, de policiais, de médicos? Não... E a razão disso? DESCASO COM A EDUCAÇÃO PÚBLICA.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Será que acertaram?

O site Visual News agrupou uma série de ilustrações francesas de 1910 imaginando a vida cotidiana no ano 2000. Dentre elas está a figura abaixo, retratando a educação. Já estamos em 2012 e nos perguntamos: será que os ilustradores acertaram? A que serviço estão as novas tecnologias?


Para conferir todas as ilustrações, clique aqui.

domingo, 29 de abril de 2012

Um dia feito de vidro

A série "A day made of glass" foi criada e disponibilizada no Youtube pela empresa Corning com o intuito de mostrar possibilidades futuras de utilização das tecnologias touchscreen. Entretanto, podemos perceber que estas projeções não são tão "futuras" assim, o que nos leva a refletir sobre novos paradigmas e possibilidades de interação e ambientes de aprendizagem.
Os dois vídeos contam um dia na vida de uma família. O primeiro narra a história sob a perspectiva dos pais, mostrando tecnologias que visam melhorar o dia-a-dia em casa e nas tarefas cotidianas. Já o segundo é apresentado sob a perspectiva das filhas, apresentando possibilidades tecnológicas no entretenimento e na escola. O segundo vídeo também apresenta possibilidades no contexto do trabalho do pai, no caso um médico.
Apesar de apresentar um contexto familiar um tanto quanto estereotipado (papai, mamãe, vovó, filhinhas, com o papai trabalhando e a mamãe fazendo compras) e pasteurizado (família margarina, rica e feliz), o que me chama atenção nesses vídeos são os recursos apresentados, principalmente os que dizem respeito às crianças. Vale a pena conferi-los buscando reflexões sobre o papel da escola neste contexto.



O papel do professor

Rubem Alves resume nesse curto vídeo o sentimento que todo professor deveria ter. Eu acrescento ainda que, além de provocador de pensamentos, todo professor deve ter o espírito científico e atuar fortemente na produção de conhecimento. Pena que a escola em si ainda esteja tão amarrada ao formato jesuítico que há 500 anos impera no Brasil e, na maioria das vezes, impede que o professor implemente suas ideias.
"[...] porque a relação com a leitura é uma relação amorosa."

Existe algo mais importante?


domingo, 22 de abril de 2012

A mercantilização da Educação

Compartilho com vocês o excelente artigo da Maria Cleide Cavalcante - minha colega dos tempos do Mestrado e pesquisadora na área de Políticas Educacionais - acerca do processo de expansão das IES comandadas por grandes conglomerados empresariais. Já atuei como docente em instituições comandadas por empresas  desse porte e sei o quanto é difícil oferecer uma formação de qualidade num contexto de educação-produto, onde o mais importante é ter muitos alunos pagando mensalidades e professores atuando como mão-de-obra barata e acrítica. Os alunos que querem uma formação séria também sofrem quando se dão conta do jogo no qual estão inseridos e, muitas vezes, se veem obrigados a permanecer no mesmo por falta de opções. Outros, infelizmente, sabem exatamente como a engrenagem funciona e frequentam a faculdade apenas cumprindo o mínimo necessário para receberem o diploma que "compraram" no início do curso. A Educação acaba sendo nivelada por baixo, favorecendo aqueles alunos que nada querem e prejudicando os que realmente desejam uma formação que possa ser chamada de "superior".

Leia aqui o artigo completo: Joi Venture ou Oligopólio da Educação Superior.

Vale a pena conferir!

sábado, 21 de abril de 2012

Documentário: Jean Piaget

Aos interessados, este documentário apresenta a teoria de Piaget e nos permite compreender um pouco mais a vida e a obra deste importante pesquisador sobre desenvolvimento e aprendizagem.

Título: Coleção Grandes Educadores - Jean Piaget
Apresentação: Ives De La Taille
Idioma: Português
Ano de Produção: 2006
Duração: 57min
Direção: Régis Horta

Sinopse: Biólogo de formação, psicólogo que estudou o desenvolvimento cognitivo, filósofo por afinidade, Piaget construiu uma obra longa, coerente e sistematizada. Os conceitos que cunhou marcaram o campo da Pedagogia a tal ponto que muitos o consideram, erroneamente, um educador. Para guiar o professor que pretende conhecer melhor o tema, este vídeo apresenta de forma clara os principais conceitos piagetianos. Conforme Yves De La Taille, a teoria de Piaget é importante para todos os adultos que lidam com crianças, pois ajudam a entender não apenas o desenvolvimento da inteligência, mas suas decorrências, como a formação do comportamento e da personalidade da criança. 







Para refletir


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Por que sou cristão?


Nasci e fui criado no catolicismo. Fui batizado, fiz minha comunhão aos 13 anos e me crismei aos 15. Durante a adolescência participei ativamente de pastorais e grupos de jovens e fiz grandes e eternas amizades durante este período. Enfim, a Igreja foi de certa forma importante na minha formação. Entretanto, hoje, ao ter passado dos 30 anos, quando me perguntam qual a minha religião, eu sempre digo antes que sou cristão. Digo isso porque hoje acredito que ser cristão é muito mais do que participar dos ritos de uma igreja. Ao meu ver, ser cristão é acreditar na bondade e na caridade pregadas por Jesus e não levar uma vida representando um papel para ser aceito por uma “comunidade” ou por medo de uma punição eterna. O verdadeiro cristão faz o bem de coração e não segue roteiros. O verdadeiro cristão não necessita gritar aos quatro cantos do mundo o que faz ou deixa de fazer. Ele simplesmente busca, faz e tenta disseminar o bem sem se sentir superior àqueles que não o fazem. Simples assim. Não acredito num Deus punitivo, vingativo, justiceiro. Acredito num Deus amor que nos dá o livre arbítrio e espera de nós apenas o bem, mas não deixa de amar aqueles que não o fazem. Quem julga, condena e castiga são as igrejas que, muitas vezes, reprimem, excluem e forçam as pessoas e fingirem ser algo que não são.
Sou cristão porque admiro Jesus por tudo aquilo que ele fez, por ter acolhido aqueles que ninguém acolhia, por ter ouvido aqueles que ninguém ouvia, por ter vivido uma vida simples mesmo tendo seguidores fiéis, por ter entregue a sua vida para que hoje nós pudéssemos refletir sobre as nossas, nem que seja por um dia. Essa é a essência da sua santidade. Muito mais do que os milagres que ele possa ter realizado foram as suas demonstrações de BONDADE, pois mostrou que é possível a nós repetirmos o que ele fez, sem a necessidade de poderes divinos.
Existem diversas outras maneiras de se praticar o bem. Existem diversas religiões não-cristãs maravilhosas. Ninguém precisa de religião nem de um Deus para praticar o bem. Mas jamais admitirei que usem o Seu nome para justificarem o preconceito, a discriminação, a soberba, a exclusão e o ódio. A verdadeira igreja é aquela que acolhe, que ajuda, que ama, sem esperar NADA em troca. Ela não julga, ela não pune, ela não exclui, ela não exige perfeição. Ela simplesmente AMA.
Por isso hoje eu digo que sou "apenas" um cristão. E basta que EU saiba disso.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Ainda somos os mesmos?

"Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais". Assim cantava Elis Regina numa das mais emocionantes canções que até hoje conheci. Mas será que isso é verdade em todos os sentidos? No contexto escolar, temos alunos que são como nós fomos e vivem a educação como nós vivemos o nosso tempo de estudantes? Ainda somos os mesmos professores que éramos no início de nossas carreiras?
O vídeo que compartilho abaixo me provocou algumas reflexões, reforçou algumas certezas e destruiu alguns conceitos que ainda insistiam em permanecer nas minhas práticas. Assistam-no e façam suas próprias reflexões.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pro dia nascer feliz!

Nesta semana de volta às aulas, recomendo a todos que realmente se interessam pela educação no Brasil que assistam ao documentário "Pro dia nascer feliz", lançado em 2006. Apesar de muitos dizerem que esta produção apenas atesta que a educação brasileira está falida, para mim tem total efeito motivador de transformação. 

Informações (extraídas de  http://socializandofilmes.blogspot.com/2011/06/filme-pro-dia-nascer-feliz.html):

Sinopse: Definido pelo próprio diretor como "um diário de observação da vida do adolescente no Brasil em seis escolas", Pro Dia Nascer Feliz flagra o dia-a-dia e adentra a subjetividade de alunas e professores de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. As situações que o adolescente brasileiro enfrenta na escola, envolvendo preconceito, precariedade, violência e esperança. Adolescentes dos estados, de classes sociais distintas, falam de suas vidas na escola, seus projetos e inquietações. As entrevistas são intercaladas com sequências de observação do ambiente das escolas - meio, por sinal, bem pouco frequentado pelo documentário. Sem exercer interferência direta, a câmera flagra salas de aula, esquadrinha corredores, pátios e banheiros, testemunha uma reunião de conselho de classe (onde os professores decidem o destino curricular dos alunos "difíceis") e momentos de relativa intimidade pessoal.

O vídeo está dividido em 8 partes e a qualidade da imagem está ótima:








Dados técnicos:

Título no Brasil: Pro Dia Nascer Feliz
Título Original: Pro Dia Nascer Feliz
País: Brasil
Gênero: Documentário
Tempo de Duração: 88 minutos
Ano de Lançamento: 2006
Distribuidor: Copacabana Filmes
Direção: João Jardim

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os rumos da formação de doutores no Brasil

http://www.ufjf.br
Interessante entrevista concedida ao Jornal da Ciência há quase dois anos pelo Professor Marcelo Hermes, do Departamento de Biologia Celular da UnB, onde o mesmo faz duras críticas à formação de doutores no Brasil (leia a entrevista na íntegra aqui). Ele apresenta uma visão contrária à expansão da pós-graduação, principalmente dos programas de doutorado, alegando que tal processo implica numa queda de qualidade na produção científica.
Apesar de, ao meu ver, em algumas colocações o professor se mostrar de certa forma arrogante e preconceituoso, como com relação aos alunos formados nas universidades particulares, acredito que o mesmo é coerente ao criticar a falta de tempo necessário para uma boa formação de novos doutores e, principalmente, do aumento do número de orientandos por professor, o que fatalmente influencia na dedicação do mesmo a cada trabalho orientado. A questão é que, no Brasil, "expansão" sempre vem acompanhada de "arroxo", ou seja, aumenta-se a oferta de vagas, porém sem aumento no número de doutores titulares para orientar os doutorandos. Como doutorando, eu entendo que a minha formação deve contemplar não apenas a pesquisa em si, mas também um ganho de experiência suficiente para que eu tenha condições de ser um orientador de mestrado e doutorado no futuro e, para isso, preciso de uma grande convivência com aqueles que já possuem essa experiência. Felizmente estou tendo esta oportunidade com minha orientadora, mas sei que muitos sequer conseguem contatos regulares com seus orientadores.
Não compartilho da ideia de que não se deve expandir a formação de doutores no Brasil, mas defendo firmemente que as políticas governamentais compreendam que a ciência não se configura num processo industrial e que a produção do conhecimento requer tempo de análise dos dados e maturação dos seus pesquisadores. A produção científica de um doutor deve ser avaliada pela qualidade e relevância e não apenas pela quantidade de artigos publicados anualmente, como infelizmente tem ocorrido nos dias atuais. 

Para encerrar, indico a leitura do artigo "A cultura da performatividade e a avaliação da Pós-Graduação em Educação no Brasil", do professor Antonio Flávio Moreira, da Universidade Católica de Petrópolis, disponível aqui.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Aos olhos do "Grande Irmão"

Para quem já leu o livro “1984” de George Orwell, o episódio do suposto abuso no Big Brother deixa evidente o que este brilhante escritor já dizia em sua obra: todo mecanismo de controle tem o seu limite. A Globo tentou – em vão – criar uma atmosfera que nos fizesse acreditar que tudo não passou de troca de “carinhos” entre dois jovens alcoolizados. Mas a própria reação do público mostrou que mesmo num programa desse “nível” existem limites a serem observados. A conivência com um suposto crime ou mesmo a falta de esclarecimentos provocam reações que forçam os detentores da informação a tomarem novos rumos. 
O que eu acho mais interessante no BBB não é essencialmente o roteiro que se procura seguir lá dentro, mas exatamente essa relação do público com o que ocorre. Muitas reações apenas afloram a própria cultura brasileira, infelizmente ainda impregnada de racismo, machismo, sexismo e preconceito. E isso não é "privilégio" das classes menos favorecidas, nem exclusividade daqueles que assistem programas do estilo Big Brother.

E para aqueles que simplesmente odeiam o BBB por odiar, sugiro a versão dos cinemas do livro a que me referi. Isso certamente ajudará nas futuras argumentações.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Educação na China

http://bbc.co.uk
A edição de 21 de dezembro de 2011 da revista Veja trouxe como reportagem de capa uma interessante análise da educação escolar chinesa e como esse país aposta nesse setor como chave para o seu desenvolvimento (leia a reportagem na íntegra aqui). Apesar do jornalista apressadamente já concluir na introdução de seu texto que o sistema chinês é um exemplo para o Brasil seguir – afinal estamos falando da Veja e toda sua já conhecida carga política totalmente parcial – é possível fazermos uma análise menos entusiasmada, porém importante para compreendermos o que poderia ser pensado no Brasil, principalmente em termos de políticas públicas. 

A reportagem foi didaticamente dividida em cinco “capítulos”. O primeiro trata da relação dos alunos com a escola e com seus pais, usando como pano de fundo a rotina de um jovem de 16 anos que estuda dia e noite para ter bons resultados no Gao Kao – uma espécie de ENEM da China – e abre mão de sua vida social para alcançar tal objetivo. A educação chinesa é fortemente embasada na meritocracia e os pais tem obsessão em oferecer aos filhos condições para que eles sejam os melhores naquilo que fazem. Particularmente não tenho nada contra isso, porém acredito que o jovem necessita de socialização, pois o ser humano não pode ser formado apenas para o trabalho. Fica claro na reportagem que na China a escola é responsável apenas pelo ensino e aprendizagem de conteúdos e todos os demais aspectos da formação humana ficam a cargo da família. Isso é bom? Não sei. 

Outro aspecto interessante abordado é a forte disciplina no espaço escolar. Pouca conversa, muito conteúdo e uma grande carga de dever de casa compõem a rotina dos estudantes, que também são responsáveis pelo asseio da sala de aula. Achei interessante e concordo com a observação de que “no Brasil ainda se confunde ordem com autoritarismo e a desordem é confundida com liberdade”. Outra curiosidade é que não há chamada nas aulas, porém a frequência é acompanhada e os pais são chamados sempre que seus filhos não comparecem às aulas, o que raramente ocorre, de acordo com a reportagem. 

http://international.umd.edu
O item que considero mais interessante na reportagem é o professor chinês. A formação de professores na China é totalmente diferente da que ocorre no Brasil, mas a carreira não é tão interessante assim em termos de salários. Entretanto, ao contrário do que facilmente podemos pensar, a pesquisa é fortemente incentivada e a ideologia comunista não está presente em tal formação e muito menos compõe o dia-a-dia desses professores em sala de aula. Existe uma abertura em termos de busca por métodos que realmente sejam eficazes em na aprendizagem, podendo ser realizadas experiências com práticas inovadoras. Tais práticas são compartilhadas entre os professores em reuniões periódicas com forte viés colaborativo. Isso faz com que as melhores práticas sejam compartilhadas rapidamente por toda a rede de ensino no país. 

Historicamente a China viveu períodos onde o conhecimento foi praticamente proibido e hoje o país parece buscar uma compensação por este equívoco. A reportagem é encerrada com números referentes aos investimentos públicos no setor e comparações frequentes com a realidade brasileira. 

Minha opinião? Brasil e China são países que até podem ser equiparados em termos econômicos – afinal puxam a fila dos emergentes – mas são muito diferentes em termos culturais e isso é impossível de ser ignorado ao se fazer educação. O brasileiro vive intensamente desde o seu nascimento e não está disposto a abrir mão de sua infância e adolescência para viver uma rotina maçante de formação para o trabalho na vida adulta. Acredito que a escola deva fazer parte do desenvolvimento do indivíduo mas não pode substituir sua vida, ou seja, a escola deve fazer parte e não ser o objetivo único desta vida. Essa é uma equação difícil de se resolver no nosso país. Concordo que a China já colhe formidáveis resultados, porém todos centrados unicamente no mundo do trabalho. E os demais aspectos da vida? São ignorados? Apesar de tudo creio que os pais brasileiros deveriam ver nos chineses um exemplo no que diz respeito ao incentivo aos estudos e na luta por uma boa educação. Um bom começo seria uma maior participação dos pais nas reuniões escolares, ficando a par do que acontece na escola, quais as metodologias adotadas e a filosofia de trabalho dos seus professores. 

O que mais me chamou atenção na reportagem foi a formação e atuação dos professores e acredito fortemente neste aspecto como chave para a transformação na educação. A troca de experiências é essencial para que as boas práticas sejam difundidas. O professor brasileiro precisa aprender – ou ser incentivado – a compartilhar suas experiências com os demais colegas. 

O aluno também não pode fugir de sua responsabilidade. Precisa compreender a escola como um espaço onde ele será capaz de entender melhor o mundo e as relações que nele ocorrem. Só assim será capaz de enfrentar a realidade com consciência e habilidades para sua própria transformação. Não defendo que ele estude 24 horas por dia, mas o mesmo precisa ter clareza de que a escola existe para ajudá-lo no seu desenvolvimento pleno.

Ao contrário do jornalista, não creio que a China seja um “exemplo a ser seguido”, mas sim uma interessante realidade a ser analisada e que certamente pode contribuir para uma auto-análise da educação no Brasil, principalmente no que tange à formação inicial e continuada de professores.