domingo, 6 de março de 2011

O aluno das cavernas

Frequentemente ouvimos falar da necessidade de atualização do professor, que ainda repete gestos e rituais pedagógicos “medievais” em seu dia-a-dia na escola. Existem professores que ainda acreditam numa “educação bancária”, como diria Paulo Freire, num processo no qual o aluno é um armário cheio de gavetas, cada qual devidamente etiquetada com uma área do conhecimento. Conhecimento este muitas vezes desconexo de sua realidade e de suas reais necessidades de crescimento intelectual e social.
Entretanto, a partir dessa realidade, muitos professores tentam imprimir no seu fazer novas práticas, novas idéias, sob uma nova perspectiva de educação transformadora.
Mas e o aluno? Ele também não precisa mudar?
É óbvio que o aluno que hoje se apresenta nas escolas não é o mesmo dos meus tempos de estudante. O contexto social e tecnológico é outro. Entretanto, muitos estudantes ainda tem uma base familiar composta por pais ou responsáveis frutos de uma escola tradicional e que, na sua grande maioria, ainda a consideram como ideal para a educação de seus filhos.

Provoco esta discussão pois, no ano passado, ouvi de um aluno a seguinte frase: “É sua obrigação me fazer entender esse assunto”. Imediatamente lhe respondi: “Não. Minha obrigação é garantir que você estude e fornecer subsídios para que você entenda o assunto”. Durante dias fiquei com aquilo “martelando” em minha cabeça e compreendi que aquele aluno tem um perfil de escola tradicional, o perfil bancário, passivo, receptivo e acrítico. Um aluno que espera tudo pronto e acabado, um “conhecimento” que não exija o mínimo de reflexão. Culpa dele? Talvez não. Talvez fosse apenas a única realidade que se até então se apresentasse a ele.
E qual o papel do professor diante de um aluno das cavernas?
Entendo que isso se constitui como mais um desafio para o professor. Ao invés de abandonar esse aluno ou simplesmente retroceder e vestir o guarda-pó da escola tradicional, o professor deve lutar para que o aluno compreenda o seu papel no processo de aprendizagem. O papel de verdadeiro construtor do conhecimento, de agente de seu próprio desenvolvimento. Os pais devem ser trazidos para a escola para que entendam as mudanças ocorridas em tal espaço e compreendam que o professor deve trabalhar como um mediador de um complexo processo de aprendizagem autônoma, porém acompanhada não apenas por ele, mas pela família, pois a autonomia não é uma característica inata. Ela se desenvolve continuamente e necessita de subsídios de todos que convivem com o indivíduo.
Certamente essa discussão não se encerra aqui. O que quero deixar nesse post é a mensagem de que o aluno precisa compreender suas necessidades pessoais de transformação e talvez a escola se constitua no único espaço onde isso seja possível.

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